Salvador terra da alegria, território de maioria africano-brasileira (Narcimária Luz). Cidade outrora repleta de energia, de coisas bonitas e da hospitalidade. Mais de 100 assassinatos em menos de 100 dias em Salvador. A violência impera na cidade privatizada, onde a juventude negra não tem oportunidade de lazer e diversão, onde tudo se paga e a carestia é insuportável, para mim, que não olho apenas para o meu umbigo. A violência do poderes públicos contra os jovens negros quando não promovem a cultura e a arte de forma acessível, nem oportuniza o jovem viver a sua própria cidade. Quando a único remédio que é vislumbrado pelos gestores públicos é a polícia, violência respondendo à violência.
A pobreza se agudiza a cada dia, e neste cenário a violência só tende a se agravar em todos os campos. Uma das últimas atrações que poderia ser grátis na Terça da Bênção, que era um espaço de vivência e cultura era o Show das terças-feiras do cantor Gerônimo na escadaria da Igreja do Carmo, agora é pago, R$ 20 reais na Praça Pedro Arcanjo. Acabou a Praça do Reggae, agora virou um matagal. A ladeira do Couro, acabou, era a vida do local. A lanchonete ao lado do ala de Arte agora do Itaú, um espaço para se lanchar e ver o por do sol da Praça Castro Alves, acabou, agora é um estacionamento. Não temos mais livrarias na cidade que não sejam evangélicas, livrarias com outras obras apenas nos Shoppings Centers, como estimularemos a leitura? Não temos o contato com o teatro, por que este é cercado, não temo mais os festivais para a juventude na Concha Acústica, somos a cidade do tinha e acabou, como será o contato do jovem com a arte e a cultura na cidade de Salvador? Apenas nos paredões de som? Ficaremos segregados e confinados nos nossos próprios bairros por toda a vida?
Mas, nós, soteropolitanos continuamos caminhando como os Zumbis de The Walking Dead, continuamos hipnotizados e sorrindo de nossa própria desgraça, até que a morte chegue em nossas famílias e vizinhos, e ai choraremos e rezaremos pedindo a Deus que nos livre da violência sem que tomemos coragem de agir em nossa própria causa. Ficamos em nossas casa, apartamentos fechados e o mundo pegando fogo lá fora e cada dia mais negros inocentes ou não são assassinados, ou vitimas de assaltos a qualquer momento. Ou todos assustados até o último assalto a ônibus. Ah! mas eu tenho o meu carro!
Mas podemos dizer que esta violência está na certeza da impunidade que se manifesta desde a prática da corrupção pelos nossos líderes políticos governista, quando digo governistas são os políticos em suas várias instâncias, que são atualmente os piores exemplos, e estes exemplos se desdobram se inserindo no seio da sociedade. Até quando assistiremos catatônicos à nossa desgraça. Até quando veremos os políticos se inserindo em nossas comunidades sem um trabalho significativo, a não ser apenas para implantar um morador cooptado que não colabora para o desenvolvimento da comunidade nem com ações que envolvam a juventude numa atividade cultural.
Mas o que vejo em Salvador são pessoas , cooptado dos políticos, órgão públicos e gestores públicos que a cada dia alargam o campo do privado, aqueles empresários que apenas querem ganhar mais dinheiro a cada dia sem promover algo que enobreça a mentalidade da maioria dos jovens. Sinceramente a cada dia fico mais indignada, decepcionada com a miséria cotidiana da cidade de Salvador que é tida na campanha municipal como Primeira Capital do Brasil; e a estadual Bahia, a Terra Mãe do Brasil, mas parece madrasta, e nem todas as madrastas. A cada dia que saio o observo atentamente, Salvador para mim é motivo de muita tristeza e decepção. Os nossos patrimônio cultural a cada dia deteriorados, exemplificando: a Feira de São Joaquim enfim será um mercado perdendo as suas características principais, ficará apenas na memória na Exposição Lá e Cá de Sérgio Guerra,
Mas, penso que um dia chegará a cura desta mentalidade colonial, desta submissão e alienação desmedida, cura da herança da mentalidade das capitanias hereditárias e seremos novamente a Salvador repleta de energias positivas e deixando de ser esta vergonha que atualmente se instala sobre ela.
Rosi Barreto
Nenhum comentário:
Postar um comentário