sábado, 21 de novembro de 2015

UMA BREVE NARRATIVA DE NEO-CLONIZAÇÃO E “IMPERIALISMO” BRASILEIRO


UMA BREVE NARRATIVA DE NEO-CLONIZAÇÃO E “IMPERIALISMO” BRASILEIRO1
Lendo uma matéria sobre um depoimento feliz de uma professora no Timor Leste2 me chamou a atenção a o processo de neo-colonização brasileiro em terras africanas e agora asiáticas. O Brasil na ansiedade de compor o bloco econômico se alia à África, não como colaborador, mas como explorador. Sabemos do racismo brasileiro, do desrespeito dessa sociedade com os africanos que vem estudar no nosso país. Temos exemplo da Vale em Moçambique, a tentativa de Lula com o seu instituto em Cabo Verde. Agora o Brasil está enviando professores brasileiros para ensinar aos educadores timorenses o ensino do nosso idioma.
Ensinar os professores de Timor Leste a ensinar em português? Essa é uma violência neo-colonial que espero em Deus os timorenses não caiam e aprendam português sem abandonar a sua língua materna. Mas também devo notar que existem jogos de interesses. Coisa do Brasil mesmo resolver os problemas alheios sem primeiro resolver os seus. Dominar várias línguas é um primor que têm as populações africanas e asiáticas. Pensei que o processo de colonização tinha terminado, mas pelo visto ainda não! Ensinar os professores de Timor Leste a ensinar em português?
Ensinar português? Se os estudantes brasileiros em sua grande maioria são analfabetos funcionais, mesmo a escola brasileira tendo algumas delas uma gama de tecnologias e informações, ainda os professores reclamam da baixa qualidade na educação e irresponsabilidade do governo com ela. Os estudantes brasileiros quando se trata de aprender outro idioma eles mesmo dizem: - não sei português para que aprender inglês e espanhol? Eu sou professora do ensino médio e hoje estou na faculdade como monitora de meu orientador e o caos é o mesmo, pessoas que não lêem bem, nem interpretam muito menos escrevem. Todas elas passaram pela escola e estudaram português a vida escolar toda.
O depoimento da professora foi interessante, no entanto não deixei de compreender o processo de neo-colonização que está sendo exercitado pelo lado do governo brasileiro. Penso que uma das primeiras coisas que um professor de idioma deva fazer é dominar a língua do local onde ele vai atuar, ou seja, o Tetum - isso não se aprende dentro de seis meses. Como ensinar um idioma sem entender do outro? A história se repete, um dia Portugal invadiu o Brasil e impôs a sua língua à população autóctone e agora o Brasil está fazendo o mesmo no Timor Leste. Se retrocedermos na história da colonização latino-americana e africana veremos o mesmo em épocas diferentes. Agora no século XXI.
No que tange à língua portuguesa falada não deve ser o caso dos estudantes, pois pelo depoimento da professora eles compreendem o professor de matemática nas explicações em portugeês, mas se comunicam entre si em sua língua mater. O que deve ser preservado. Mas, por que ainda falar e aprender português se essa língua não é usada no cotidiano local, nem mesmo na sala de aula pelos estudantes quando tratam do assunto entre si? Por que ensinar em português continuo me questionando. Encontrei, a resposta: expansão do mercado literário português e brasileiro, em território timorense as editoras saem ganhando, essa ajuda cai no interesse econômico e financeiro. Quanto as editoras ganharam durante todo o governo Lula e os livros não ficaram baratos mesmo com a isenção de impostos oferecida pelo governo federal. As pessoas compram livros usados e fazem cópias para estudarem, ainda hoje, se quiserem aprender alguma coisa..
Quanto ao uso do idioma português o timorenses devem falar o português com suas próprias características, assim com falam o moçambicano, o angolano e o brasileiro. Temos o português brasileiro, o nosso idioma diferente de todos no mundo, ele tem raízes nas línguistico banto (umbundo, ovimbundo e quimbundo). Temos especificidades até no teclado do computador. O nosso idioma foi de certa forma cerceado com o acordo ortográfico que também não vai resolver os problemas do português no cotidiano dos países, vai ter grande impacto nos acordos financeiro, econômicos e políticos entre os países de língua portuguesa, sobretudo superando as especificidade, ambigüidades e divergências do idioma. Outro ganho é para os mercados editoriais ampliando o seu leque de distribuição se todos falem e usem os seus livros. Queira Deus sem os racismos e conteúdos distorcidos existentes nos livros brasileiros sobre a África, que muitas vezes tratam em livros assuntos que divergem da realidade dos estudantes e eles perdem aos poucos a sua identidade, aprendendo muitas vezes mais sobre o outros do que sobre si mesmo e de seu território. O que a colonialidade mental do brasileiro não deixa ver.
Uma coisa que notei, e interessante, os estudantes timorenses têm educação doméstica dão “bom dia” aos professores. No Brasil estamos tendo seríssimos problemas com a violência na escola e falta de respeito do aluno para com o professor. O que o sistema brasileiro de educação e segurança deveriam se responsabilizarem e não fazem. Interessante que o Brasil que não preza nem um pouco pela educação do seu país vá educar os outros. O que me chamou a atenção foi a professora dizer da letra belíssima da estudante, o que raramente encontramos no Brasil. Antigamente utilizávamos caligrafia o que veio a ser cerceado, sob alegação de que o estudante não deveria ser castrado em sua criatividade, resultado pessoas com péssima caligrafia. Com o uso da caligrafia o estudante aprimora a sua escrita e a letra fica bonita, assim aprimorei a minha caligrafia. Espero que esses estudantes timorenses nunca deixem de falar as suas línguas maternas. Reitero. No Brasil somos um país unilíngüe, além de muitos não falarem o seu próprio português -brasileiro, corretamente mesmo tendo professores brasileiros nas sala de aula. Eles não se interessam por falar espanhol, muito menos inglês que estudamos desde a 5ª série e saímos sem falar nada de inglês, apenas conhecendo algumas palavras. Muitos deles afirmam que não sabem português para que aprender inglês e espanhol?


1 Professora da rede estadual da educação da Bahia. Mestra em Educação Brasileira – UFC. Doutoranda em Educação Brasileira UFC. Especialista em Met. do Ensino Superior e da Educação Física e em História Social e Cultura Afro-brasileira. Agência de fomento: CAPES/PROPAG.
2 Matéria disponível em: < http://revistaeducacao.uol.com.br/textos/198/o-desafio-de-ensinar-em-portugues-299835-1.asp. Revista Educação. Acesso em: 8 nov. 2013.

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