UMA
BREVE NARRATIVA DE NEO-CLONIZAÇÃO E “IMPERIALISMO” BRASILEIRO1
Lendo
uma matéria sobre um depoimento feliz de uma professora no Timor
Leste2
me chamou a atenção a o processo de neo-colonização brasileiro em
terras africanas e agora asiáticas. O Brasil na ansiedade de compor
o bloco econômico se alia à África, não como colaborador, mas
como explorador. Sabemos do racismo brasileiro, do desrespeito dessa
sociedade com os africanos que vem estudar no nosso país. Temos
exemplo da Vale em Moçambique, a tentativa de Lula com o seu
instituto em Cabo Verde. Agora o Brasil está enviando professores
brasileiros para ensinar aos educadores timorenses o ensino do nosso
idioma.
Ensinar
os professores de Timor Leste a ensinar em português? Essa é uma
violência neo-colonial que espero em Deus os timorenses não caiam e
aprendam português sem abandonar a sua língua materna. Mas também
devo notar que existem jogos de interesses. Coisa do Brasil mesmo
resolver os problemas alheios sem primeiro resolver os seus. Dominar
várias línguas é um primor que têm as populações africanas e
asiáticas. Pensei que o processo de colonização tinha terminado,
mas pelo visto ainda não! Ensinar os professores de Timor Leste a
ensinar em português?
Ensinar
português? Se os estudantes brasileiros em sua grande maioria são
analfabetos funcionais, mesmo a escola brasileira tendo algumas delas
uma gama de tecnologias e informações, ainda os professores
reclamam da baixa qualidade na educação e irresponsabilidade do
governo com ela. Os estudantes brasileiros quando se trata de
aprender outro idioma eles mesmo dizem: - não sei português para
que aprender inglês e espanhol? Eu sou professora do ensino médio e
hoje estou na faculdade como monitora de meu orientador e o caos é o
mesmo, pessoas que não lêem bem, nem interpretam muito menos
escrevem. Todas elas passaram pela escola e estudaram português a
vida escolar toda.
O
depoimento da professora foi interessante, no entanto não deixei de
compreender o processo de neo-colonização que está sendo
exercitado pelo lado do governo brasileiro. Penso que uma das
primeiras coisas que um professor de idioma deva fazer é dominar a
língua do local onde ele vai atuar, ou seja, o Tetum - isso não se
aprende dentro de seis meses. Como ensinar um idioma sem entender do
outro? A história se repete, um dia Portugal invadiu o Brasil e
impôs a sua língua à população autóctone e agora o Brasil está
fazendo o mesmo no Timor Leste. Se retrocedermos na história da
colonização latino-americana e africana veremos o mesmo em épocas
diferentes. Agora no século XXI.
No
que tange à língua portuguesa falada não deve ser o caso dos
estudantes, pois pelo depoimento da professora eles compreendem o
professor de matemática nas explicações em portugeês, mas se
comunicam entre si em sua língua mater. O que deve ser preservado.
Mas, por que ainda falar e aprender português se essa língua não é
usada no cotidiano local, nem mesmo na sala de aula pelos estudantes
quando tratam do assunto entre si? Por que ensinar em português
continuo me questionando. Encontrei, a resposta: expansão do mercado
literário português e brasileiro, em território timorense as
editoras saem ganhando, essa ajuda cai no interesse econômico e
financeiro. Quanto as editoras ganharam durante todo o governo Lula e
os livros não ficaram baratos mesmo com a isenção de impostos
oferecida pelo governo federal. As pessoas compram livros usados e
fazem cópias para estudarem, ainda hoje, se quiserem aprender alguma
coisa..
Quanto
ao uso do idioma português o timorenses devem falar o português com
suas próprias características, assim com falam o moçambicano, o
angolano e o brasileiro. Temos o português brasileiro, o nosso
idioma diferente de todos no mundo, ele tem raízes nas línguistico
banto (umbundo, ovimbundo e quimbundo). Temos especificidades até no
teclado do computador. O nosso idioma foi de certa forma cerceado com
o acordo ortográfico que também não vai resolver os problemas do
português no cotidiano dos países, vai ter grande impacto nos
acordos financeiro, econômicos e políticos entre os países de
língua portuguesa, sobretudo superando as especificidade,
ambigüidades e divergências do idioma. Outro ganho é para os
mercados editoriais ampliando o seu leque de distribuição se todos
falem e usem os seus livros. Queira Deus sem os racismos e conteúdos
distorcidos existentes nos livros brasileiros sobre a África, que
muitas vezes tratam em livros assuntos que divergem da realidade dos
estudantes e eles perdem aos poucos a sua identidade, aprendendo
muitas vezes mais sobre o outros do que sobre si mesmo e de seu
território. O que a colonialidade mental do brasileiro não deixa
ver.
Uma
coisa que notei, e interessante, os estudantes timorenses têm
educação doméstica dão “bom
dia”
aos professores. No Brasil estamos tendo seríssimos problemas com a
violência na escola e falta de respeito do aluno para com o
professor. O que o sistema brasileiro de educação e segurança
deveriam se responsabilizarem e não fazem. Interessante que o Brasil
que não preza nem um pouco pela educação do seu país vá educar
os outros. O que me chamou a atenção foi a professora dizer da
letra belíssima da estudante, o que raramente encontramos no Brasil.
Antigamente utilizávamos caligrafia o que veio a ser cerceado, sob
alegação de que o estudante não deveria ser castrado em sua
criatividade, resultado pessoas com péssima caligrafia. Com o uso da
caligrafia o estudante aprimora a sua escrita e a letra fica bonita,
assim aprimorei a minha caligrafia. Espero que esses estudantes
timorenses nunca deixem de falar as suas línguas maternas. Reitero.
No Brasil somos um país unilíngüe, além de muitos não falarem o
seu próprio português -brasileiro, corretamente mesmo tendo
professores brasileiros nas sala de aula. Eles não se interessam
por falar espanhol, muito menos inglês que estudamos desde a 5ª
série e saímos sem falar nada de inglês, apenas conhecendo algumas
palavras. Muitos deles afirmam que não sabem português para que
aprender inglês e espanhol?
1
Professora da rede estadual da educação da Bahia. Mestra em
Educação Brasileira – UFC. Doutoranda em Educação Brasileira
UFC. Especialista em Met. do Ensino Superior e da Educação Física
e em História Social e Cultura Afro-brasileira. Agência de
fomento: CAPES/PROPAG.
2
Matéria disponível em: <
http://revistaeducacao.uol.com.br/textos/198/o-desafio-de-ensinar-em-portugues-299835-1.asp.
Revista Educação. Acesso em: 8 nov. 2013.
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