AFRICA:
ENTRE ACOMODAÇÃO, NEGAÇÃO E AFIRMAÇÃO.
ACOMODAÇÃO:
COLONIALISMO, ÁFRICA POR ELA MESMA
Este
texto foi produzido para uma palestra na Universidade Estadual de
Feira de Santana num evento organizado pelo Núcleo de Estudos
Africanos e Indígenas.
Hoje
é o dia em que a nação brasileira comemora o Dia da Consciência
Negra, 20 de Novembro. Ele foi aprovado no calendários escolar em
2003, mas foi com a lei
12.519,
de 10 de novembro de 2011 que foi aclamado em nível nacional. Esta
data foi eleita por que coincide com o dia do assassinato de Zumbi
dos Palmares no ano de 1695 por Domingos Jorge Velho, que recebeu
recompensa em dinheiro, terras e uma missa em ação de graças.
Este
texto que foi produzido para uma palestra na Universidade Estadual de
Feira de Santana, no ano de 2012. Hoje resolvi postá-lo
em homenagem a nós, todos os negros e negras que resistem ao
extermínio, ou
genocídio, etnocídio, feminicídio e infanticídio
desde 1549 quando chegou ao Brasil, o primeiro navio que traficava
pessoas africanas
escravizadas
de forma criminosa.
O
tema que sintetizarei é complexo, primeiro
por
que o continente africano não é homogêneo, aliás, nada é
homogêneo em nenhum lugar. Onde existem homens e mulheres, pessoas,
não existem homogeneidades, existem complexidades, hetrogeneidades e
diversidade. Essa complexidade se agrava com o desconhecimento e
ignorância da
sociedade
brasileira sobre a sua própria
história
e
a
do
continente africano.
O
Brasil amputou a história do(a) negro(a) e dos aborígenes
brasileiros(as) e da África de nossos currículos escolares, em vez
disto nos foi oferecido em doses cavalares conhecimentos sobre o
continente do colonizador, o europeu. Foi
tão forte que
não nos sensibilizarmos com as nossas desgraças, mas com as
desgraças do colonizador que vem cometendo atrocidades desde séculos
conosco
e com os outros que consideram pessoas de segunda categoria.
A
África não é uma massa atrasada como afirma Gramicsi no livro ‘Os
Intelectuais e a Organização da Cultural’ (1982, p. 20). Existe
diversidade étnica, cultural, religiosa, social, política;
história, escrita, organicidade e inteligência nas sociedades
africanas. No continente africano existe uma infinidade de línguas
fazeres e saberes étnicos. Contudo devemos compreender como nos
aponta Cheick Anta Diop que existe unidade na diversidade africana.
DA
ACOMODAÇÃO
O
continente africano nunca se acomodou, muito
menos os africanos no Brasil nem os africanos-brasileiros, na
formulação de Luz().
Em quais aspectos podemos pensar que existiu acomodação no
continente africano? Essa quase que acomodação transparece por que
não conhecemos
nem entendemos
ao certo a forma como o colonialismo vigorou e neo colonialismo se
retroalimenta no continente. Parece que os genocídios,
etnocídios, a fome e outras sabotagens barram o continente africano
e sua forma de resistência e enfrentamento. Segundo,
os(as)
africanos(as)
tiveram e têm que enfrentado
crimes
que atentaram
e atentam
contra a sua cultura, expressão religiosa e suas próprias vidas. A
invenção da arma de fogo e da metralhadora foi importante para a
colonização. A Maxim foi utilizada pela primeira vez numa operação
militar no Egito, oferecida por Hiram Maxim às forças Britânicas
de, 1886 a 1890. Depois foi utilizada na campanha de pacificação,
dos Boeres também em África. Por que em África? Quantas pessoas
foram assassinadas nesse período, além dos outros tantos que
morreram durante o tráfico negreiro criminoso? Qual o problema do
continente africano é a sua riqueza ou pobreza? São questões a
serem refletidas.
O
continente africano e os afrodescendentes não se deixam acomodar
totalmente mesmo com todas as adversidades que encontram e encontram
pelo caminho. As suas formas de luta são invisibilizadas pelo
sistema político, social e econômico capitalista
racista de
maneira geral, o que nos deixa a impressão de uma acomodação.
Embora exista de certa forma, não é uma máxima. No Brasil a
cultura de base africana representada nas irmandades, religiosidade,
capoeira entre outras, são maiores exemplos de coragem da população
negra contra o racismo. Basta pensarmos em mulheres como Kimpa Vita
(Congo) que fundou o movimento antoniano (M’Bokolo), Nzinga
(Angola) contra o tráfico transatlântico criminoso (Luz) e
Sarraounia (Níger) contra os franceses. E
as brasileiras Luiza Mahim, Zeferina, Dandara, Mãe Stela ialorixá
do Ilê Axé Opôafonjá, Mãe Beata, Carolina Maria de Jesus dentre
outras,
Outros
exemplos estão nos africanos que interessados
em desenvolver sua própria marcha desenvolvimentista e moderna,
segundo seus preceitos e cosmovisão foram brutalmente assassinados a
exemplo de em: 1957, Dedan Kimathi (Quênia); 1958, Reubem Um Nyobe
(Camarões); 1959, Bathelemey Boganda (Rep. Centro Africana); 1960,
Felix-Rolant Moumié (Camaõres)1;
1961, Jean-Pierre Finant (Congo), Joseph Okito, Maurice Mpolo e
Patrice Lumumba (Congo Kinshasa)2;
1963, Sylvanus Olympio (Togo); 1965, Mehdi Bem Barka (Marrocos);
1966, Ossende Afana (Camarões); 1968, Pierre Mulele (Congo); 1969,
Eduardo Mondlane (Moçambique)3;
1972, Ange Diawara Bidie e Jean-Baptiste Ikoko (Congo Brazzaville);
1973, Outel Bono (Chade)4
e Amílcar Cabral (Guiné-Bissau e Cabo Verde)5;
1974, Onkgopotse Tiro (África do Sul); 1975, Herbert Chiptepo
(Zâmbia) e Josiah Kariuki (Quênia); 1976, Murtala Mohamed
(Nigéria)6;
1977, Steve Biko (África do Sul)7
e Modibo Keita (Mali)8;
1981, Joe Gqabi (África do Sul); 1982, Ruth First (África do Sul);
1983, Attati Mpakati (Zimbábue); 1986, Samora Machel (Moçambique),
1987, Thoma Sankara (Burkina Faso)9,
e Kadafi 2011 (Líbia).
Intelectuais
como Cheikh Anta Diop, Jacques Depelchin, Ki-zerbo, Elisée Soumonni,
Wamba dia Wamba, Hampate Bâ, Tehophile Obenga, Severino Ngoenha,
Carlos Moore, Henrique Cunha Junior, Abdias do Nascimento, Lélia
Gonzalez, Chimamanda Adiche, Angela Davis, Bell Hooks, e
nós que estamos aqui mostra que essa acomodação não nos afeta em
sua totalidade. A acomodação atual está em alguns dos líderes
africanos e dos países em desenvolvimento como o Brasil celebrarem
acordos com países
imperialistas, organismos e agências internacionais negociando suas
riquezas. O que não se restringe apenas ao continente africano, no
Brasil temos um exemplo recente as obras de Belo Monte, sem que
nenhum parlamentar se abale com os impactos ambientais em sua
totalidade e
a atual tragédia de Mariana.
É
importante notar que os africanos não se deixaram escravizar (Cunha
Junior). Existe uma parte da população africana que preserva
valores tradicionais. Mas também é mais importante saber que existe
um sistema que está obcecado pela destruição da humanidade na
África, principalmente pela sua riqueza, não pela sua pobreza. E os
países da diáspora corroboram com as práticas racistas que
dificultam a vida dos(as)
negros(as)
e perpetrando
o preconceito anti-africano e
antinegro.
No Brasil, o exemplo mais recente se expressa pela dificuldade na
aceitação das ‘Cotas para Negros’ nas Universidades que
foram aprovadas como cotas sociais e
a
exclusão
da população negra em todos os setores da
sociedade.
Quais são, os motivos pelos quais os racistas são
contra as cotas? A obstinação não para,
não dá tréguas pelo fato de a
sociedade brasileira não suportar ver pessoas negras ascenderem a
setores antes ocupados apenas por outros(as), os não-negros.
A
sociedade brasileira não aceita lidar
com mulheres
e
homens os indesejados, africanos(as)
e afrodescendentes, em
suma, não podem suportar qualquer coisa que desestruture o poder de
quem por séculos de mantém no poder, os brancos(as), eles não
suportam a comunalidade no poder, na
divisão de espaços e
conviver com a cultura dos que consideram inferiores.
Questionemo-nos, porque tantos anos de obstinação para destruírem
Palmares, Canudos e Caldeirão, os quilombos e as populações
indígenas?
No
continente africano existiram as guerras de expansão, mas elas nunca
promoveram genocídios em massa como a humanidade assistiu com o
tráfico transatlântico criminoso e a escravidão africana na
diáspora. Um verdadeiro holocausto que traz até hoje suas
consequências
não devendo nada ao crime
cometido contra os
judeus. Nessa escravidão se negou totalmente e humanidade, a
cultura, a religiosidade, os saberes e fazeres africanos
atribuindo-os diretamente ao atraso. O que não corresponde com a
realidade. Aliado a isso convivemos diuturnamente com a negação da
filosofia e história africana e dos afrodescendentes. Os
currículos escolares nos oferecem a
história e
exemplos da
acivilização ocidental quando promoveram suas guerras, genocídios,
suplícios, violência física e simbólica contra si e contra os
outros. E
que é o bárbaro e selvagem? Aimé
Césaire
observa que
[…] uma
civilização que é incapaz de resolver os problemas que cria é uma
civilização decadente. Uma civilização que opta por ignorar os
seus problemas mais cruciais é uma civilização agonizante. Uma
civilização que ludibrie com os seus princípios é uma civilização
moribunda. O fato é que a própria civilização "européia",
"ocidental", como em dois séculos moldaram o regime
burguês, é incapaz de resolver dois grandes problemas que a sua
existência gerou: o problema do proletariado e o problema colonial,
que se refere ao limite da "razão", como ao limite da
"consciência", que a Europa é incapaz de ser justificada,
e que, cada vez mais, ela se refugia em uma hipocrisia, especialmente
porque ela emprega menos esforço para evitar a induzir a erros.
(Tradução Nossa)
Ariès
(1981)
em História Social da Infância e da Família aponta acontecimentos
na idade antiga referentes ao tratamento dados
às crianças na infância - o infanticídio,
à
família,
à
privacidade,
ao
trato
com a terra que em nada corresponde à mesma época no continente
africano, o que demonstra a civilização dos povos africanos. De
acordo com o filósofo moçambicano Severino Ngoenha (2007),
o desafio africano é aliar a tradição ao moderno preservando a
cultura, a cosmovisão africana por que isso diz respeito a resolver
problemas criados pelos efeitos nefastos do colonialismo.
No que tange à escravidão, mesmo tendo
existido no continente africano e
nos quilombos (o
que não é especificidade africana, porque existiu escravidão em
outros locais)
ela em sua forma nunca negou a humanidade das
pessoas.
A democracia sempre existiu na forma em que se exercia o poder, poder
esse descentralizado e compartilhado com respeito ao mais velho,
considerando a sua experiência de vida (KI-ZERBO,
2006),
(HAMPATÉ
BÂ, 2003).
O respeito ao idoso é e era de fundamental importância o que não
vemos na sociedade ocidentalizada
brasileira,
civilizada, democrática
onde temos e
precisamos do
estatuto do idoso, elaboramos leis para obrigar esse respeito.
A
filosofia banto nos presenteia com esse pensamento que está
subjacente à irmandade do Rosário dos Pretos de Salvador. E está
em consonância com a filosofia egípcia. O
NTU,
o princípio da existência de tudo. “O Muntu
é a pessoa constituída pelo corpo, mente, cultura e palavra. O
Ubuntu,
a
existência definida pela existência de outras existências. Eu nós
existimos porque você e os outros existem, tem um sentido
colaborativo da existência humana coletiva nisto [...] A natureza
como respeito profundo a vida. [...] Uma criança nasce e de imediato
é classificada na categoria de coisas, seres animados, até que
através da palavra falada alguém lhe dê um nome e o pronuncie. A
palavra transforma o ser animado potencial humano, passível de
inteligência humana a ser desenvolvida.” CUNHA JUNIOR (2010, p.
26-31) . Vemos
que os princípios africanos presentes na África pré-colonial eram
nobres e creio que devem continuar sendo, mesmo tendo sofrido abalos
com após ser invadido por Portugal, França. Espanha, Inglaterra,
Bélgica, Itália, Holanda, Dinamarca, EUA, Suécia, Áustria-Hungria
e Imperio Otomano.
NEGAÇÃO:
A AUTONEGAÇÃO, A NEGAÇÃO DOS DE FORA,
A
negação e autonegação ocorre pelo fato de desconhecermos a
história africana, dos afrodescendente e dos africanos no Brasil.
Inicia
na
África quando os africanos são induzidos a desconhecerem a sua
história nos bancos escolares, por que a educação escolar tempo em
que educa, aliena as pessoas de sua história. “Uma
mentira repetida mil vezes, torna-se verdade” afirma o ministro da
propaganda da Alemanha Nazista, Paul
Joseph Goebbels.
A
afirmação e escuta permanente da ausência de cultura, história,
civilização repetidas muitas
vezes
por séculos, se constituiu em verdade, e as pessoas se negam e não
querem ver o que contraria o que lhe foi veementemente afirmado.
Temos inúmeras obras não traduzidas e as que são traduzidas
corroboram com para colonialização do saber e do conhecimento e com
a neo-colinização. Hoje
em Cabo Verde os portugueses ainda sufocam os caboverdianos com sua
literatura impondo ainda a sua presença, além da presença chinesa.
Essa negação é corroborada para o bem do capitalismo e do consumo
exacerbado. No
Brasil não é o contrário.
Uma
vez reconhecendo que existe uma história africana, que é alicerce
para a história da humanidade se demolirá a negação e autonegação
da África. O colonialismo foi e
continua sendo que entrou no continente africano, latino-americano
dentre outros, abriu
uma ferida incurável,
o racismo que
nega a humanidade.
Uma vez negada a humanidade de alguns, se condena a humanidade
inteira, desestruturando e desequilibrando as populações africanas
e
na diáspora africana.
Este
desequilíbrio,
que também nos põe em divergência com outros seres humanos, levou
os líderes africanos a
colaborarem
com a colonização e neo-colonização, não
diferindo no Brasil.
A humanidade tirada dos africanos, restrita apenas ao branco europeu,
aliena-se a humanidade à branquitude. Em Paris, no ano de 1789 os
representantes do povo francês declararam os direitos
imprescritíveis do homem, liberdade, a prosperidade, a segurança e
a resistência à opressão.
O
que não foi estendido para os africanos no Haiti.
O que criou por uma
parte
o
sentimento de superioridade em alguns
e noutros
o de inferioridade e autonegação de valores, cultura,
religiosidade.
Os
colonizadores europeus sempre pensaram os africanos como objeto de
exploração territorial econômica, não diferindo hoje dos países
não-europeus, a
exemplo do
Brasil, agindo
atualmente como um predador da África.
exatamente como os colonizadores.
A supressão cultural e religiosa africana, que era o alicerce das
sociedades africanas Achebe
(
1983),
novamente
o Brasil com a leva de
igrejas neopentecostal, as empresas brasileiras em África.
Contudo, a
família, os laços consanguíneos
e de parentesco; matirlinearidade e patrilinearidade, o exercício do
poder distribuído para que todos que
se
sintissem participantes, não representados como em nossa democracia,
a tradição oral, são valores que foram abalados, mas muitos não
se perderam (ALTUNA,
1983).
A
ancestralidade, a religiosidade, a circularidade, a energia o axé
(ioruba) (LUZ,
2000). O
ntu
(banto) ALTUNA
(1983). O que
corresponde ao maat
egípcio, (Obenga) e a tradição oral que
também
são responsáveis
pela
afrobrasilidade, ou cultura de base africana e valores resignficados
em algumas organizações sociais, nas
manifestações culturais simbólicas, estéticas e dos
saberes africanos resignificados no Brasil. São saberes e fazeres
tradicionais persistentes a exemplo das iniciações africanas e
as
celebrações fúnebres (Guiné-Bissau). Em
Bom Juá nas décadas de 1940, 50, 60 e 70 ainda existiam as
sentinelas e em Plataforma
Salvador
- BA
permanece,
independente
da idade do morto, o
cortejo fúnebre seguir
até o cemitério levando o caixão nas mãos. A morte embora para
alguns seja o fim da vida, ou para outros a ressurreição no dia do
juízo final (pensamento religioso cristão) na
religião do candomblé
é a passagem para
a vida no mundo invisível, junto
aos ancestrais, por esta razão de realiza uma cerimônia chamada
Axexê. Outro valor afirmativo é a propriedade coletiva em
detrimento da privada. A solidariedade em detrimento da
individualidade, vemos hoje em
algumas comunidades tradicionais os
quilombos e nos terreiros
de candomblés.
Os
lugares/territórios são compostos de seres humanos e os seres
humanos modificam as coisas diante de suas necessidades e momentos
históricos. Os povos africanos produziram civilizações,
e elas atendiam às necessidades da época, o que denota
que
as tecnologias africanas
africanas eram
avançadas
antecedendo às
dos
europeus (matemática,filosofia, agricultura, medicina, astronomia
etc).
Por essa razão não podemos atribuir a esse continente a
ahistoricidade, a aculturabilidade, a acivilização. Todos os povos
têm civilização desde que pensemos que a civilização tem
aspectos particulares e singulares. E que entendamos que a
civilização é ampla não atendendo apenas a uma lógica e ótica,
a eurocêntrica.
Selecionada para o mestrado em educação na UFC, tive a oportunidade de viver fora de meu estado. Nele nunca tive a experiência de ser tão admirada, “elogiada”. Em Fortaleza os homens e mulheres de pele escura são cotidianamente lembrados de que aquele não é o seu lugar, nem lugar de africano(a). Um exemplo para falar de acomodação, negação e afirmação: mesmo eu estando falando o português com sotaque baiano, ou se o(a) negro(a) for cearense com sotaque local é oriundo(a) de qualquer país africano. O que considero nossa acomodação aos ditames racistas e antiafricanos na sociedade brasileira tempo em que é negação da pessoa e de valores negros, e afirmação de racismo criminoso contra afro-brasileiros e africanos(as).
Selecionada para o mestrado em educação na UFC, tive a oportunidade de viver fora de meu estado. Nele nunca tive a experiência de ser tão admirada, “elogiada”. Em Fortaleza os homens e mulheres de pele escura são cotidianamente lembrados de que aquele não é o seu lugar, nem lugar de africano(a). Um exemplo para falar de acomodação, negação e afirmação: mesmo eu estando falando o português com sotaque baiano, ou se o(a) negro(a) for cearense com sotaque local é oriundo(a) de qualquer país africano. O que considero nossa acomodação aos ditames racistas e antiafricanos na sociedade brasileira tempo em que é negação da pessoa e de valores negros, e afirmação de racismo criminoso contra afro-brasileiros e africanos(as).
O
reconhecimento da filosofia africana é um exemplo de afirmação.
Existe um esforço de Teophile Obenga em afirmar a filosofia
africana, Cuhna Junoir, Severino
Ngoenha
nos
mostrando
que a filosofia tem origens no Egito e que existem outras
filosofias
no continente africano. No que tange à religiosidade, mesmo com a
invasão desrespeitosa de outras práticas religiosas (islamismo e
catolicismo e atualmente
o neo
penteconstalismo) a religiosidade africana se mantém associada a
essas outras práticas religiosas. Os africanos associaram e
incorporaram o que lhes interessava das outras religiões. a
exemplo do que nos trás Hampate Bâ e os exemplos dos estudantes
guineenses, nigerianos. Embora muitos não tenham tido contato com
sua religiosidade.
Essa religiosidade que não se afasta da vida social nem afasta Deus
das pessoas. Deus na religiosidade africana é onipresente,
inquestionável. Assim como na religião do candomblé, os orixás
são seres divinizados, ancestrais. A religiosidade africana não
prima pelo sofrimento e sim pelo equilíbrio e felicidade nem entende
a morte como o fim e sim como um rito de passagem de um estágio da
vida para outro:
A
morte é energia reenviada
para
o divino. É o retorno ao divino que é a energia inicial. É o
retorno ao início.
O
colonialismo europeu ignorando a complexidade das populações
africanas e objetivando a destruição por conta de sua ganância
inculca o contrário nas mentalidades, muitas vezes alvo de
colonização metal e cria uma entidade denominada satanás,
inexistente nas religiões africanas e de matriz africana para
desequilibrar as nossas mentes erigindo a satanização das nossas
religiões e das africanas. Cria as teorias racistas e nelas
inferioriza e desumaniza todas as práticas sociais africanas.
O
candomblé, umbanda, o samba, a capoeira no Brasil são símbolos de
resistência afro-brasileira ao colonialismo, racismo criminoso,
preconceito anti negro a preconceito antiafricanao. A África tem
tudo para se reconstituir mesmo na modernidade por que trás em si
complexidades desde seus primórdios e não seria diferente no
momento atual, como sabemos a África inaugura tecnologias. O
candomblé e a capoeira angola, são atualizações e
resignificações, o que significa que se houve possibilidades fora
da África na adversidade é possível para a África atualizar-se
nos momentos atuais se os países desenvolvidos e ditos em
desenvolvimento não sabotarem a marcha desenvolvimentista africana.
Se os países desenvolvidos criarem seus próprios meios sem
extorquir o continente africano e os outros em detrimento de seu
próprio desenvolvimento. Exemplo: Cabo Verde: na existem editoras,
os livro são importados de Portugal. Não existe agricultura por que
os portugueses plantaram uma erva daninha que seca o solo, a
universidade pública se nega a tratar sobre história africana,
contudo a afirmação existe no sentido de um grupo de professore
insatisfeitos criarem uma universidade particular para discutir sues
problema e afirmarem sua história. exemplo,
em Angola
um campanha
ferrenha para o uso do leite industrializado
em detrimento ao
aleitamento materno para a
comercialização do leite
Ninho.
É
a nestlé, por trás das campanhas. Enfim, a afirmação
do africano e do afrodescendente é uma tarefa árdua.
A
África
pensanda
por ela mesma pode se estruturar, se formos capazes todos(as)
de conscientemente barrar o neo-colonialismo porque ela não não
fará, se não é
a barbárie? Grande parte dos jovens africanos em Fortaleza, e
principalmente
os caboverdianos, se vêem africanos no Brasil, mas por serem
discriminados e serem confundidos com pessoas “cheias de doenças”
mesmo não aparentando serem doentes. Exemplo Andy, “Quando
cheguei não dava conta de minha cor. Muito menos do estigma. Aqui
pude me enxergar
como
diferente. A ignorância das pessoas veio de brinde, com o
preconceito” O caboverdiano aqui citado não quis ser grosseiro e
preferiu tratar o racismo como apenas um preconceito.
Ainda
segundo informações de Andy para o Jornal o Povo: Andava
com bermudas e chinelos, quando viveu no Papicu, para evitar os
ladrões, “porque o bairro é violento”. Então era confundido
com o próprio perigo – algumas pessoas atravessavam a rua. Se
vestisse jeans e polo, era assaltado. Há uns meses, procurava
apartamento no Benfica. Bateu à porta da senhoria: “Estou
interessado no quarto para aluguel”. Ela olhou para os lados e
gritou: “Socorro!”. E o colocou para fora dali. Sem mais.
Nós
brasileiros que temos muita coisa da cultura de base africana,
precisamos conhecer a história africana e identificar a nossa
relação com a África que é o que temos de melhor para
reconstruirmos a sociedade de maneira digna e solidária, primando
pelos valores africanos de solidariedade, comunidade, equilíbrio,
sociabilidade e verdadeira democracia. E olharmos onde nos levaram, e
nos levarão os valores europeus da individualidade, consumo, e
exploração do que é alheio.
Deixar
os africanos pensarem o que é melhor para eles sem deixar se levar
pelas interferências externas, mas como fazer isso com o sistema
capitalista que se mostra nas entrelinhas racista e antinegro
e
preconceituoso com as filosofias, cultura e religiosidade africana.
preconceituoso com as filosofias, cultura e religiosidade africana.
NOTAS
1
De acordo coma nota de rodapé Moore (2008, p.49) denuncia que esse
líder africano, importante téorico pan-africanista, dirigente Da
União das Populações de Camarões (UPC). Foi assassiando com o
veneno Tálio, em um hotel em Genebra, Suiça, pela “Mão
Vermelha”, uma seção do Serviço de Inteligência Francesa
(SDECE) que se encarregava, na época, de exterminar os dirigentes
nacionais africanos nas colônias francesas.
2Primeiro-Ministro
do Congo, assassinado num complô orquestrado pelos EUA, Bélgica e
França Op cit.
3Presidente
da FELIMO (Frente Libertadora de Moçambique), assassinado pelo
Serviço de Inteligência de Portugal (PIDE) com uma bomba. Opcit
p. 50.
4Dirigente
pan-africanista assassinado em Paris com dois tiros no peito pelo
Serviço de Inteligência da França (SDECE). Op.
cit..
5Líder
da Gunié-Bissau do (Partido pela Independência de Guiné-Bissau e
Cabo Verde), assassinado pelo Serviço de Inteligência de Portugal
(PIDE) com participação de traidores do movimento. Op
cit.
6Presidente
da Nigéria, foi assassinado pelo serviço secreto dos EUA (CIA) e
da Grã-Bretanha (MS).
7Assassinado
na detenção pelo regime do Apartheid, foi propulsor da filosofia
consciência negra. Op.
Cit.p.51
8Presidente
do Mali, foi eliminado por emergência de um golpe de Estado
promovido pela França. Op. Cit.
9Primeiro-Ministro,
assassinado em sua residência, presume-se que pelo governo francês.
Op.
cit.
Maiores informações a cerca de motivos que levaram ao extermínio
de inúmeros líderes africanos, estão disponíveis em: MOORE,
Carlos. A
África que Incomoda: sobre a problematização do legado africano
no quotidiano brasileiro.
Belo Horizonte:Nandyala. (Coleção Repensando a África, v. 1),
2008. 217 p.
notas
REFERÊNCIAS
ALTUNA,
Pe. Raul Ruiz de Asúa. Cultura tradicional banto. Secretariado.
Arquiduidiocesano
de Pastoral, Luanda, 1985.
ARIÈS,
Phillipe. História social da criança e da família. Tradução
de Dora Flasksman. Rio de Janeiro: LCT, 1981.
BÂ,
Hampâté Amadou. Amkoullel, o menino fula.Tradução Xina Smith de
Vasconcleos. São Paulo: Palas Athena/Casa das Áfricas, 2003.
ACHEBE,
Chinua Achibe. O Mundo se despedaça. São Paulo: Ática,
1983.
MOORE,
Carlos. A África que Incomoda: sobre a problematização do
legado africano no quotidiano brasileiro. Belo Horizonte:Nandyala.
(Coleção Repensando a África, v. 1), 2008. 217 p.
Ki-ZERBO,
Joseph. Para quando África? Entrevista com René Holenstein.
Tradução Carlos Aboim de Brito. Rio de Janeiro: Pallas, 2006.
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