segunda-feira, 30 de maio de 2016

APOLOGIA À CULTURA DO ESTUPRO NO BRASIL. SERÁ QUE TAMBÉM NÃO SOMOS CULPADOS(AS)?

 

No ano da 1985 o Grupo É o Tchan lança a música - Na Boquinha da Garrafa. Ah! que legal, que coisa linda a mulher se remexendo subindo e descendo na boquinha da garrafa. Foi uma febre nacional e muitas mulheres crianças, jovens, adultas e idosas queriam também erotizar dançar sobre o gargalo da garrafa. Ah! Nós somos mulheres, temos o direito ao nosso corpo fazer dele o que quisermos. Está certo. Este é o pagode baiano. Os homens protagonizam as músicas e as mulheres semi nuas dançam freneticamente

Depois, de  muitos anos, eles dizem: Relaxe na Bica, Me dá a Patinha, Diz que a mulher está bêbada e precisa tomar tapa na cara.

 


Depois, eles continuam com o forró, Saia e Bicicletinha

 


Eu me incomodei com isto e há uns 4 anos enviei uma mensagem ao MP-BA perguntando se estas músicas também não se enquadrariam na violência contra as mulheres. Responderam-me que sim e eu deveria fazer uma denúncia. Fiz a denúncia e depois de um tempo procurei o órgão buscando informações sobre ela. Responderam-me que apenas eu e outra pessoa tínhamos feito denúncias, logo esta coisa não incomodava e assim eles não poderiam fazer nada. E o desrespeito continua.

Senta a P* e Xerecard. Ela, a mulher saiu e não fez nada com o rapaz, mas na próxima vez que ela ligar ela, a mulher vai pagar com Xerecard. E ele canta: Vai ligar de novo.... vai pagar a p* da conta com xerecard"

 


Em todas estas canções, vale a pena observar  a postura dos homens, como eles observam as mulheres se exibindo, Como o rapaz do troco entrou em sintonia coma professora na música todo enfiado, a liberdade de tocar a mulher de qualquer forma





 o machismo estampado nas letras a colaboração da mulher por se sentir emancipada e com posse de seu corpo. O que é verdade, mas não para a nossa sociedade machista, racista e homofóbica. 

Ainda temos as mulheres frutas,




 As Miss Bumbum




Outra coisa interessante é ler os comentários abaixo de cada vídeo, são os mais degradantes possíveis para as mulheres. E eu pergunto. E o machismo continua voraz? E a emancipação feminina? E as mulheres negra e jovens negras? E as mulheres são apenas corpo e bumbum

Vem pra cá com Rabo. O rapaz diz que quer sair com a moça com o cachorro que se chama Rabo. E canta: vem prá cá com rab, whisky no rabo etc.. Por que a moça troca rabo com suas nádegas?

 


 MC Jhey, um rapaz tão jovem já aprendeu a desmoralizar as mulheres na sociedade brasileira por meio das canções e já canta: "Eu, tu, nós bota nelas. O bonde chegou, predador de perereca. Sapeca, pepeca, divide esta tcheca. Vai sentar com força pros meninos da favela então". Este rapaz é entrevistado por uma mulher que não é capaz de perguntar sobre este tipo de composição. Se ela não é um tipo de apologia ao estupro, ou qualquer coisa.



 


MC João em Baile de Favela diz: Mexeu com R7, vai voltar com a xota ardendo... Os menor preparado pra f* com a xota dela.


 

 MC MM, canta dizendo que é adestrador de cadela: "Sabe aquelas minas cachorra, piranha, sapeca. Então pode trazer elas que R7 da um trato Poem no pelo e g… nela. Então cancela as moças de família certa Que minha meta na favela é só pegar mina perversa. eu sou adestrador de Cadela. Nós pega bota na t… depois solta na banguela"






Não é possível ver tantos absurdos e nós compartilhamos com ele. Paulo Padilha está certo quando diz que o brasileiro perdeu a noção do absurdo. Penso que as mulheres devem ser valorizadas e deveriam boicotar este tipo de música que só vulgariza e as desrespeita. Ah!  Mas vivemos num país democrático e temos direito ao nosso corpo. Nossa democracia se escreve com a falta de limites, fazermos o que quisermos quando e como quisermos porque vivemos numa democracia. Mas mesmo dentro da democracia deve ter limites para não virar uma bagunça a que se transformou o Brasil.

Os anos foram passando e nós permitimos que os homens a cada ano desclassificassem as mulheres. Mas eles entenderam que todas não são iguais e já categorizam as de família e as perversas, estas, as cadelas que merecem ser adestradas como canta o MC MM. acima. Quem senta para compor uma coisa destas está com problemas, quem ouve e executa as instruções destes cantores pior ainda que perdeu a noção de como o outro, o homem a está vendo e como a sociedade a classifica. Se nós nos mulheres emancipadas, donas dos nossos narizes, trabalhadoras não opiásessemos a este tipo de canção quem sabe poderíamos ser mais respeitadas. Se que não acabaria o machismo, mas os machista veriam uma reação de todas as mulheres. Ah! mas é proibido proibir, que é ditadura. Logo estamos coniventes com tudo de errado que ocorre no Brasil, não apenas os políticos.


Só esquecemos que o machismo nunca acabou. O estupro da garota na Zona Oeste do Rio de Janeiro é consequência de nosso descaso iniciando pela permissividade de tantos desrespeitos, impunidades.  Os estupradores de toda natureza conhecem a impunidade de nosso sistema e as leis caducas que estão vigentes no Brasil. Resta a nós sociedade brasileira homens e mulheres tomarmos posição e agirmos. Temos livre arbítrio e o que está acontecendo não é coisa do satanás e sim fruto de nosso descaso enquanto sociedade brasileira.

Rosivalda Barreto