domingo, 29 de novembro de 2015

SEJA BEM VINDO!

 




Fote: Objetivo Jardim japão



Este blog objetiva informar as pessoas sobre o racismo à brasileira. 
O racismo brasileiro é o crime perfeito (Kabenguele Munanga) e Cirúrgico (Carlos Moore). 

Precisamos enxergar as contribuições dos(as) africanos(as) e afro-brasileiros para o Brasil na língua portuguesa, na culinária, na economia, na construção civil, na literatura no patrimônio cultural material e imaterial, assim como na musicalidade.

O racismo ele é sutil, não deixa o não-negro enxergar o quanto foi e é importante para o Brasil a figura do(a) negro(a)! Não deixa o não-negro(a) enxergar que estão psicologicamente adoecidos e com a sua doença promove a baixa autoestima da população negra. A sociedade, o governo, as instituições públicas e privadas brasileiras são as principais contribuintes na nutrição deste monstro brasileiro. E nós brasileiros para combatermos esta aberração, precisamos nos manter informados, principalmente sobre a nossa história e a dos africanos e africanos-brasileiros (Narcimária Luz) no Brasil. 

O Brasil precisa não mais negar o seu racismo, mas assumi-lo para ser idealmente um país democrático. Capaz de conviver com negros(as) e brancos(as) brasileiros(as) com iguais direitos sociais e assim saiba receber os(as) imigrantes negros e negras. E que estes homens e mulheres de todas as nações ao se visto de paletó não seja confundido com um segurança ou motorista. Ou uma mulher negra com um vestido mais elaborado seja confundida com uma prostituta (Nataraj Trinta). Ou numa mulher vestida de branco confundida com uma babá. Segundo a consulesa Francesa Alexandra Balden Loras, o Brasil é o único ligar no mundo que babá se veste de branco. Por que?

Ora, a sociedade brasileira está presa na mentalidade colonial e republicana, precisa de libertar da mentalidade colonializada, alienada, subdesenvolvida e escravizada no século XIX que via e vê no negro e na negra como os(as) escravizados e escravizadas. Um ladrão ou uma ladra, seguindo ainda o pensamento do  século XIX. Estamos com a mentalidade pior que a do século acima citado, por que na escravidão o(a) negro(a) era visto como um trabalhador. Logo, somos um povo que involui conforme passa o tempo.

O negro e a negra imigrante que vem ao Brasil hoje vem estudar, trabalhar por que muitos têm graduação em seus países. Porém aos chegarem no Brasil enfrentam dificuldade de inserção no mercado do trabalho por que são aceitos nas condições coloniais e republicanas arcaicas antigas. A mesma mentalidade do pós-abolição onde os serviços "subalternos" na mentalidade arcaica são para os(as) negros(as) de qualquer nação incluindo Brasil.

Vamos gostar do nosso país e do nosso povo, vamos combater o racismo!
Vamos respeitar os(as) imigrantes negros e negras!

terça-feira, 24 de novembro de 2015

PARA ASSUMIR A NEGRITUDE DE VERDADE DEVEMOS SER DESCOLADOS E DESCOLADAS

Bom dia!

Uma dia eu conheci uma garotinha levada chamada Gininha, numa cidade do interior da Bahia, Muritiba!

Esta garota nasceu descolada e colocando qualquer um no chinelo com a sua sabedoria e inteligência, foi um contrato reincarnatório. Hoje ela postou algo sobre o processo de branqueamento por que o pop star Michael Jackson passou para modificar a sua aparência. Era tão lindo!!!

E eu como sempre uma senhora descolada, de Salvador parecida com a garotinha Gininha que agora é uma mulher sempre descolada com síndrome de Gabriela: " Eu nasci assim, eu cresci assim, eu sou mesmo assim, vou ser sempre assim: Gininha. Respondo:

O racismo é forte e muitas pessoas não conseguem lidar com esta situação numa sociedade como a brasileira e a estadunidense. E todas as outras racistas. O racismo faz com que muitas pessoas não se aceitem como foram concebidas por Deus, desenvolvem uma baixa autoestima que obriga a muitos negros e negras em todo o mundo à busca incessante de cada vez mais se aproximar do fenótipo do opressor! Mas, não adianta, a nossa negritude está no sangue e não nas aparências. Por mais que tentemos ludibriar a natureza sempre seremos negros e negras. É mais fácil aceitar ser o que somos e lutarmos pelo respeito de sermos como somos. Infelizmente assumir completamente a negritude não é fácil para todas as pessoas! Nem todo mundo é descolado ou descolada!

segunda-feira, 23 de novembro de 2015

EXTERMÍNIO DE JOVENS NEGROS. POR QUÊ?




                                   Fonte: R7

Existiu um intelectual brasileiro que garantiu que em 2012 não haveria mais negros no Brasil. Seu nome? João Baptista Lacerda. Quando? No ano de 1911. Onde? Em Londres, no Congresso Universal de Raças. Ele foi o representante oficial do Brasil. O projeto de nosso extermínio, do extermínio da população negra no Brasil é antigo, tem 104 anos de idade. Não deu muito certo, por que estmos no ano de 2015 e ainda existimos. Existimos e ainda somos a maioria. Vivemos num país racista onde negros(as) são indesejados. E o governo continua por ser brasileiro, não desistir nunca, continua prosseguindo com os projetos de Lacerda e Roqquete-Pinto, iniciado desde o início do século XIX. Como não deu certo com a mistura de raças e não fomos ficando brancos. Agora o extermínio é mais rápido. O governador da Bahia, do Partido dos trabalhadores, Rui Costa, seguindo a ideologia de Baptistiana afirma que o policial é como um artilheiro de futebol, quando mais faz gol, mais a sociedade fica feliz. Logo, se o policial é comparado a um artilheiro de futebol, quanto mais ele matar mais fará a sociedade feliz. Agora nos matam a bala o mais preto e qualquer um. As pesquisas informam que o Brasil é o país que mais mata negros e jovens no mundo. Para justificar e respaldar o extermínio, acusa-se o morto de ser envolvido com tráfico de drogas ou então se usa o argumento de auto de resistência. Engraçado que a assertiva é: Se é inocente até que prove o contrário. NO BRASIL é diferente: Se é culpado até que prove a inocência. 
 
No caso do jovem negro ele só provará sua inocência depois de morto. Pios que a sociedade apoia dizendo: Se correu por que deve. Sendo assim negro não pode: correr, se coçar, não pode brincar, ficar parado numa esquina do seu bairro, andar na moto com um macaco na mão, sair da igreja coma bíblia na mão ou brincar com o celular por que o policial vai confundir estes objetos com uma arma e matará a pessoa negra imediatamente. Mas, e se a pessoa for envolvida, onde está escrito na legislação que o polícia pode abordar, julgar e matar em segundos? Resposta: No Auto de Resistência, o policial assassina a pessoa, depois vai numa delegacia registra a morte como Auto de Resistência, ou confronto e o crime não será investigado nem o policial preso e criminalizado. É uma licença para matar. Como vivemos numa democracia, vale ressaltar que este Auto foi criado na época da ditadura e continua vigente no nosso país democrático. É um fim trágico, mas se não tomarmos partido, pode ser qualquer um de nós, somos os alvos preferidos dos policiais, infelizmente!! Observem a manipulação da notícia no Brasil: Quando um jovem é assassinado nos Estado Unidos: Jovem negro é assassinado por policiais. 

No BRASIL: Adolescente é morto por suspeito, que no caso, é o policial. Ainda uma manipulação na notícia para aterrorizar a sociedade e colocá-la contra o jovem negro e pobre. Infelizmente vivemos num país onde as pessoas são boas, cristãs tementes a Deus, o Brasil é a Pátria do Evangelho, além de ser a Pátria Educadora, mas perdemos a humanidade, pois permitimos e ficamos letargicamente inertes, sem nenhuma reação, omissos a cada assassinato cometido pela polícia. Vivemos num país onde matar virou esporte, no entanto nos revoltamos por que a seleção brasileira foi goleada de 7X1 da seleção alemã na copa de 2014. Mas, não conseguimos nos revoltar com o desgoverno brasileiro e ainda apoiamos. Mas, fazer o que não é?

Rosi

sábado, 21 de novembro de 2015

EXÚ: A DIALÉTICA DA RELIGIOSIDADE AFRICANA QUE REFLETE NA RELIGIÃO AFRO-BRASILEIRA (1ª PARTE)

O que é dialética? A dialética vem do grego e do latim (dialectica e dialectice). É um método que se assenta na contradição e contraposição de ideias, gerando outras ideias a partir de argumentação. Literalmente significa “caminho entre as ideias”, a arte do diálogo. De acordo com os intelectuais a dialética se fundamenta na filosofia ocidental e oriental. Percebamos então que: existem segundo a cosmovisão ocidental dois nomes de filósofos fundadores da dialética Zenão de Eleia (490-430 a.C.) e Sócrates (469-399 a.C.). Diz-se que os métodos dialéticos mais conhecidos são os de Hegel (1770-1831). Contudo concordando com Ngoenha (1993)[1]quando faz analisa as correntes filosóficas explicitando que a filosofia ocidental descarta a filosofia africana.  Ora, se os filósofos gregos estudavam na biblioteca da cidade de Alexandria, e essa era uma importante cidade egípcia, logo a filosofia nasce no Egito, na África com filósofos africanos. Os filósofos ocidentais que beberam na fonte da filosofia africana.

A África sendo o berço da humanidade, naturalmente não teria sobrevivido até a colonização sem tradição e filosofia. Munanga (2009)[2], Ki-zerbo (2006)[3], Luz (2000)[4], Altuna(1985)[5], Obenga(2004)[6] afirmam que existe uma filosofia, ou seja, uma cosmovisão africana que concluímos ser banto e ioruba. As duas fazem parte do cenário brasileiro e estão imbricadas nas religiões de matriz africana. Existe uma unidade na diversidade de acordo com os autores acima, o que caracteriza o continente africano: religiosidade, energia vital (para nós da religião de matriz africana chamamos de axé) e valorização da natureza; circularidade, o que explica dançarmos o candomblé numa roda e jogarmos capoeira também numa roda. Nesse espaço célebre a hierarquia respeita a antiguidade, ou seja, quem é mais velho no santo ou na capoeira, o mestre. O poder não passa pela posse financeira.

A filosofia tradicional africana não contempla a contradição (bem x mau) / (céu x inferno). Essas dois adjetivos se inseriram na realidade africana a partir do islamismo, catolicismo e na atualidade com o neo-pentencostalismo. A filosofia africana crê que o mundo deva ser equilibrado. Esse equilíbrio segundo a filosofia egípcia é Maat[7]. O mau e bem são energias que nos circundam, e a energia negativa (que não é a personificação da imagem do demônio, nem do satanás), é a causa do desequilíbrio. Logo, nessa cosmovisão os humanos podem direcionar bem ou mal as energias, causando bem ou mal para si e para os outros. Por que a filosofia Ubuntu, consiste em ‘existimos por que os outros existem’, e esses outros, são todos os seres animais, vegetais e minerais. Certamente a energia negativa provoca desequilíbrio e resulta nas nossas faltas. Essas faltas podem ser perdoadas, amenizadas e promover equilíbrio e são corrigidas por meio das oferendas a Deus, através dos Oirxás e Ancestrais.

A vida deve ser vivida agora, e a felicidade deve fazer parte da vida, vida essa que está respeitando um ciclo entre dois mundos o material Aiyê e o espiritual Orun. Somos todos/as energia, que num movimento circular retorna à sua origem: Deus. A morte é um rito de passagem para a vida espiritual, logo, a morte inexiste. Morrer é, não deixar descendentes. A religião tradicional africana é uma religião de vida e não de sacrifícios, nem de morte. Por essa razão dançamos e cantamos quando celebramos. A energia está na música e no som dos tambores, a nossa voz é o tambor!

Nessa religião existem: Deus entidade inquestionável; os seres divinizados (orixás), entidade representantes dos fenômenos da natureza e os ancestrais (eguns)[8]. Dentre os orixás existe um, o EXU, ele  me fez pensar na filosofia e na dialética. Por que esse orixá é tudo que há na natureza humana, amor, ódio, graça, sensatez, insensatez, humor, logo cada homem e mulher possui um EXU! O que é o EXU??

BIBLIOGRAFIA ELETRÔNICA

Disponível em <http://pt.wikipedia.org/wiki/Dial%C3%A9tica>. Acesso em 29 jan, 2012. 15:27.
Dicponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Alexandria

[1] NGOENHA, Severino Elias. Filosofia Africana: das independências às liberdades. Maputo: Edições Paulistas. 1993.
[2] KABENGELE, Munanga. Negritude: usos e sentidos. Coleção Cultura Negra e Identidade. Belo Horizonte: Editora Autêntica, 2009.
[3] Ki-ZERBO, Joseph. Para Quando África? Entrevista com René Holenstein. Tradução Carlos Aboim de Brito. Rio de Janeiro: Pallas, 2006.
[4] LUZ, Marco Aurélio de Oliveira. Agadá: dinâmica da civilização africano-brasileira. 2a Edição. Salvador: EDUFBA. 2000.
[5] ALTUNA, Pe. Raul Ruiz de Assúa. Cultura Tradicional Banto. Lunada: Secretariado Arquidiocesano de Pastoral. 1985.
[6] OBENGA. Teòphile. African Philosophy – The Pharaonic Period: 2780-330 BC. Dakar: Per Ankh, 2004.
[7] Op. cit.
[8] Os mortos. Esses são homenageados nos cultos dos Egunguns, masculinos e Geledés, femininos. Informações fundamentadas poderão ser encontradas em: SANTOS. Juana Elben. Os Nagô e a  Morte: Padè, Asèsè e o Culto do Egun na Bahia. Tradução Universidade Federal da Bahia. 13ª Edição. Petrópolis: Vozes. 2008. 
[9] Os mortos. Esses são homenageados nos cultos dos Egunguns, masculinos e Geledés, femininos. Informações fundamentadas poderão ser encontradas em: SANTOS. Juana Elben. Os Nagô e a  Morte: Padè, Asèsè e o Culto do Egun na Bahia. Tradução Universidade Federal da Bahia. 13ª Edição. Petrópolis: Vozes. 2008.

EXU? (2ª Parte)

O que é o bem e o mal. onde ele se encontra? O que é o demônio e qual a sua suposta aparência? O que é fetiche ou feitiço? Como as religiões católica, neopentecostal e islâmica veem o mal? Se aguçarmos a nossa imaginação e buscarmos respostas na religiosidade tradicional e cognição africana, na lógica, chegaremos à seguinte conclusão. Se a cosmovisão africana crê que no mundo tudo é energia, o mal e o bem são energias que são alimentadas no nosso ego colaborando para o nosso equilíbrio ou desequilíbrio. Contudo o que deve prevalecer é o equilíbrio, ou seja, Maat na filosofia egípcia, Axé ioruba e Ntu, banto.

O demônio não existe! Foi uma invenção ideológico judaico-cristã, instituição igreja, para dominar os fiéis e justificar o poder na presença de Deus como o ser temido, vingativo a quem devemos obediência cega para evitarmos outra farsa, o inferno, onde por intermédio do padre, rabino, pastor nos orientarão para nos livrar do pecado, também nos colocando em contato direto com Deus e determinando a nossa penitência. Essa ideia de céu e inferno é invenção judaico-cristã. Na cosmovisão africana a vida existe aqui e agora, sem a ideia do pecado original, portanto o que devemos fazer de bom o lugar é aqui e agora, porque na religiosidade tradicional africana a energia circula entre dois mundos paralelos no qual Deus está presente, do orum (mundo espiritual) e o aiyê (mundo físico). A morte é o rito de passagem do mundo visível para o mundo invisível, mundo dos ancestrais, por via do Axexe, momento em que nossa energia vai retornar para Deus e reequilibrar a energia terrestre. Axexe é origem das origens, e é quando se celebra a passagem de um ara-aiyê, ser humano habitante do aiyê, para o orum. “Esta passagem caracteriza uma elaboração de morte que compreende o conceito de restituição. ‘Vai-se para dar lugar a outros’. Uma vez restituídas de axé, as forças que regem o universo são capazes de engendrar novos nascimentos e expandir criação.” (LUZ 2000, p. 33).

Deus não está longe de nós, faz parte dos dois mundos, porque é energia na qual também estamos embebidos. Deus está em nós e nosso corpo é o seu templo. É nesse sentido que a festa se torna um elemento forte na cultura de base africana, a alegria em vez do sofrimento deve ser preservada. Por isso dançamos e cantamos quando celebramos. Por essa razão a celebração do candomblé se faz com música, indumentária impecável, e adereços significativos que são ao mesmo tempo obras de arte lindíssimas. Lembremo-nos do nosso artista imortal Mestre Didi, o Alapini (líder supremo) do culto do Egungun no Ilê Axé Assipá, na Bahia. É um artista que visualizou no candomblé as artes plásticas.

lida com ideias fixas de bem/mal; bom/ruim; claro/escuro; acima/abaixo, belo/feio. O Exu,  Esu, Eshu, Bara, Ibarabo, Legbá, Elegbara, Eleggua (Cuba), Akésan, Igèlù, Yangí, Ònan, Lállú, Tiriri, Ijèlú. São a subjetividade, são duas ou mais coisas ao mesmo tempo. A palavra Exu, significa esfera. Onde começa e termina a esfera? As ferramentas de Exu são obras de arte, assim como todas as outras que estão e são inerentes às indumentárias dos demais orixás. Porque a arte faz parte do universo africano.

Os missionários chegaram ao continente africano com um amuleto, a cruz, e falando insistentemente em feitiço, palavra inexistente no vocabulário africano. Concluímos que o feitiço é uma ideia europeia inserida no contexto africano a partir da colonização. Por que os amuletos africanos eram satânicos se não existia a ideia do satanás? Não seria essa entidade católica, uma forma de desestruturar a religiosidade africana, com o intuito de fazer ruir a cultura africana e dominar para controlar o continente por razões sórdidas, criminosas motivadas pelos interesses político-econômicos e pela ganância para por via da religião, impor o poder europeu? A religiosidade africana antecede a colonização, logo o demônio, o satanás é uma ideologia utilizada pela crença judaico-cristã para implantar o terror, a força e o poder colonial objetivando a subalternidade e inferioridade da religiosidade africana e afro-brasileira, resultando no que vemos atualmente com a prática da intolerância religiosa. Onde o pobre Exu é o culpado de todos os males. A religiosidade africana e afro-brasileira são subjetivas e dialéticas. É preciso inteligentsia para alcançar essa subjetividade. Satanizar a religiosidade africana e afro-brasileira é um ato de bondade ou de maldade?

O mundo ocidental é dicotômico, ricano e se notarmos bem do afro-brasileiro. Uma forma de se relacionar com o sagrado. São formas que contém em si energia vital. O Exu pode ser bom ou ruim dependendo dos homens, por que as energias positivas e negativas fazem parte do universo humano, logo, o mal e o bem são energias que emergem das atitudes humanas. Um dos símbolos e principal do Exu é o tridente, que limita, mas não dilacera, fere, mas equilibra, não mata. A lança transpassa e dilacera o adversário, porém e o tridente é o limite. O Exu é evocado no padê ou ipadê, reunião convocatória de todas as forças capazes de trazer o bem estar e prosperidade à comunidade, tempo em que oferenda a Iya-Agba, as mães ancestrais. (LUZ 2000, p. 51)

Exu é o orixá princípio da comunicação, por isso está em todos os lugares, em todos os caminhos em todas as pessoas, transmitindo dinamismo. Caminhos são encruzilhadas que levam a todos os lugares possíveis, com várias opções, com várias escolhas. Por essa razão as oferendas a Exu, são no abrigo da natureza, na rua e nas encruzilhadas para abrir os caminhos. Essas oferendas são a ligação entre o homem e o sagrado, ele faz circular o axé dinamizador do ciclo vital. A assentamento de Exu é na frente das casas de candomblé para protegê-la e aos seus adeptos.

 O “assento” de Exu,  que é uma casinhola de pedra e cal, de portinhola fechada a cadeado é a sua representação mais comum em que está sempre armado com suas sete espadas, […]Entre os iorubás o lugar consagrado a Exu é constituído por pedaços de pedras porosas chamada yangi ou por um montículo de terra modelada numa forma similar a figura humana que tem olhos, nariz e boca assinalados por cauris (búzios). Outras vezes são representados por uma estátua que contém fileiras de cauris, tendo às mãos uma pequena cabaça (adó) que no seu interior leva ingredientes com poderes mágicos para a realização dos seus trabalhos, nestes casos, seus cabelos projetam-se numa longa trança sobre o crânio com a finalidade de ocultar a lâmina de uma faca que ele possui no alto do crânio que correspondem aos sete caminhos do seu imenso domínio, eram outros tantos motivos a apoiar a símile. (SODRE 2009, p.5)

Onde estão a maldade e satanismo ou vestígios desses nos assentamentos e nas oferendas a exu?
Exu é orixá l’odê, isto é, orixá de rua, irmão de Ogun. Tem várias representações. É responsável pelo interior do corpo. Exu Bara, oba+ara = rei do corpo, logo todo o indivíduo tem o seu exu. Ele responde pela circulação interna do corpo e pelo movimento. Está relacionado com  as cavidade internas do útero. É o patrono da relação sexual, fazendo interagir o sêmen e o óvulo que é a representação do axé e principio feminino e masculino respectivamente. Está ligado à placenta, ou seja, ipori, matéria de origem. Também associado à introjeção e restituição que estão representadas nas esculturas que o representa. Transfere as matérias do ayiê para o orun. (LUZ 2000, p. 51)
Exu é filho da interação dos princípios masculino e feminino. Orumila orixá funfun, da cor branca, da direita e com Ybiérru, orixá da esquerda da cor vermelha. Quando associado ao barro vermelho endurecido, considerado a primeira matéria do universo. “Exu  realiza o processo capaz de engendrar a passagem e o nascimento de um ser do orun para o aiyê, das matérias massa, princípios genéricos, para a existência material concreta”. (LUZ 2000, p. 51).

Exu possui alguns nomes que variam segundo suas características.
Yangi primeira matéria do universo. Exu Bara rege o interior do corpo. Exu Enugbarijo ligado às funções da boca, da introspecção e da fala. Exu Ojixé=ebo, mensageiro e transportador de oferendas. Exu Elebó, senhor das oferendas que estabelece a ligação dos seres humanos com os orixás e vice-versa. Exu Onã, que abre e fecha os caminhos, prefere as encruzilhadas. Exu-obé, o que maneja a faca que separa e auxilia o nascimento e propicia a morte. Exu Osetuwa, que movimenta a posição dos símbolos que representa os Odu que regem o destino. (LUZ 2000, p. 51).

Exu é andarilho, é invisível, mas existe. Representa o riso e a brincadeira. Um dia Exu resolveu trocar a lua, o sol e o oceano dos seus lugares de origem. Oxalá viu a lua passar em lugar que não lhe era particular e perguntou o que ocorreu. A Lua respondeu: – foi Exu. E Oxalá ordenou que tudo fosse restituído ao seu lugar.
Quais são as ideias de lateralidade na religião de matriz africana as quais podemos dizer que Exu utiliza no seu ofício de mensageiro entre os dois mundos, responsável pelo ciclo de energia vital?

Tendo a oferenda na mão esquerda estende o braço para a frente saudando o nascente, o iyo-õrun; levando o seu braço para trás, saúda o poente, o ìwò-õrun; depois estende o braço para a direita, saudando o lado direito do mundo, o ótún-àiyé; e finamente para a esquerda, saudando o lado esquerdo do mundo, òsì-aiyé. (SANTOS 2008, p. 69)
Observemos então que as oferendas e comunicação se dão extremamente conectadas com o mundo e a natureza. Exu notadamente não é especificamente um orixá, é um princípio comunicação e da circulação do axé, da energia vital entre o homem, a mulher e o sagrado, as divindades, o meio ambiente. É a força dinamizadora.

Não há existência sem Exu, porque não há existência sem uma forma cultural que lhe dê sentido. Exu dá sentido ao interligar todos os seres. Os seres são porque são interligados. Exu é o princípio da comunicação e como toda a comunicação é pública, logo política. Exu é o princípio mais dinâmico da cultura afro-brasileira na medida em que coloca todos os seres em intercâmbio relacional conferindo-lhe a existência individualizada, principalmente o sentido que faz com que as coisas sejam o que são […] a inteligibilidade sobre as coisas. (OLIVEIRA, p. 108.)
Exu é Exu! Exu é nossa natureza humana, Exu é alegria e tristeza, é a personificação da dinâmica da vida.

BIBLIOGRAFIA
LUZ, Marco Aurélio de Oliveira. Agadá: dinâmica da civilização africano-brasileira. 2a Edição. Salvador: EDUFBA. 2000.
OLIVEIRA, David Eduardo de. Cosmovisão Africana no Brasil: elementos para uma filosofia afrodescendente. Fortaleza: LCR. 2003.
SANTOS. Juana Elben dos. Os Nãgõ e a Morte: Pàde, Asèsè e o culto égun na Bahia. Tradução UFBA. 13 ed. Petrópolis: Vozes, 2008.
SOUSA JUNIOR, Vilson Caetano. Nossas Raízes Africanas. (Org.). São Paulo: Atabaque, 2004.
Bibliografia Eletrônica
Exu e seu tridente Disponível em: <http://www.ermitao.com/2011/03/exu-e-seu-tridente.html>. Acesso 06 fev. 2012.
SODRÉ, Jaime. Exu – forma e função. In: Revista VeraCidade – Ano IV – Nº 5 – Outubro de 2009 Dsiponível em <http://www.veraci dade. .ba.gov.br/v5/pdf/artigo4.pdf>. Acesso 6 fev. 2012.
Exu (orixá). Disponível em < http://pt.wikipedia.org/wiki/Exu_(orix%C3%A1). Acesso 06 fev. 2012.






UMA BREVE NARRATIVA DE NEO-CLONIZAÇÃO E “IMPERIALISMO” BRASILEIRO


UMA BREVE NARRATIVA DE NEO-CLONIZAÇÃO E “IMPERIALISMO” BRASILEIRO1
Lendo uma matéria sobre um depoimento feliz de uma professora no Timor Leste2 me chamou a atenção a o processo de neo-colonização brasileiro em terras africanas e agora asiáticas. O Brasil na ansiedade de compor o bloco econômico se alia à África, não como colaborador, mas como explorador. Sabemos do racismo brasileiro, do desrespeito dessa sociedade com os africanos que vem estudar no nosso país. Temos exemplo da Vale em Moçambique, a tentativa de Lula com o seu instituto em Cabo Verde. Agora o Brasil está enviando professores brasileiros para ensinar aos educadores timorenses o ensino do nosso idioma.
Ensinar os professores de Timor Leste a ensinar em português? Essa é uma violência neo-colonial que espero em Deus os timorenses não caiam e aprendam português sem abandonar a sua língua materna. Mas também devo notar que existem jogos de interesses. Coisa do Brasil mesmo resolver os problemas alheios sem primeiro resolver os seus. Dominar várias línguas é um primor que têm as populações africanas e asiáticas. Pensei que o processo de colonização tinha terminado, mas pelo visto ainda não! Ensinar os professores de Timor Leste a ensinar em português?
Ensinar português? Se os estudantes brasileiros em sua grande maioria são analfabetos funcionais, mesmo a escola brasileira tendo algumas delas uma gama de tecnologias e informações, ainda os professores reclamam da baixa qualidade na educação e irresponsabilidade do governo com ela. Os estudantes brasileiros quando se trata de aprender outro idioma eles mesmo dizem: - não sei português para que aprender inglês e espanhol? Eu sou professora do ensino médio e hoje estou na faculdade como monitora de meu orientador e o caos é o mesmo, pessoas que não lêem bem, nem interpretam muito menos escrevem. Todas elas passaram pela escola e estudaram português a vida escolar toda.
O depoimento da professora foi interessante, no entanto não deixei de compreender o processo de neo-colonização que está sendo exercitado pelo lado do governo brasileiro. Penso que uma das primeiras coisas que um professor de idioma deva fazer é dominar a língua do local onde ele vai atuar, ou seja, o Tetum - isso não se aprende dentro de seis meses. Como ensinar um idioma sem entender do outro? A história se repete, um dia Portugal invadiu o Brasil e impôs a sua língua à população autóctone e agora o Brasil está fazendo o mesmo no Timor Leste. Se retrocedermos na história da colonização latino-americana e africana veremos o mesmo em épocas diferentes. Agora no século XXI.
No que tange à língua portuguesa falada não deve ser o caso dos estudantes, pois pelo depoimento da professora eles compreendem o professor de matemática nas explicações em portugeês, mas se comunicam entre si em sua língua mater. O que deve ser preservado. Mas, por que ainda falar e aprender português se essa língua não é usada no cotidiano local, nem mesmo na sala de aula pelos estudantes quando tratam do assunto entre si? Por que ensinar em português continuo me questionando. Encontrei, a resposta: expansão do mercado literário português e brasileiro, em território timorense as editoras saem ganhando, essa ajuda cai no interesse econômico e financeiro. Quanto as editoras ganharam durante todo o governo Lula e os livros não ficaram baratos mesmo com a isenção de impostos oferecida pelo governo federal. As pessoas compram livros usados e fazem cópias para estudarem, ainda hoje, se quiserem aprender alguma coisa..
Quanto ao uso do idioma português o timorenses devem falar o português com suas próprias características, assim com falam o moçambicano, o angolano e o brasileiro. Temos o português brasileiro, o nosso idioma diferente de todos no mundo, ele tem raízes nas línguistico banto (umbundo, ovimbundo e quimbundo). Temos especificidades até no teclado do computador. O nosso idioma foi de certa forma cerceado com o acordo ortográfico que também não vai resolver os problemas do português no cotidiano dos países, vai ter grande impacto nos acordos financeiro, econômicos e políticos entre os países de língua portuguesa, sobretudo superando as especificidade, ambigüidades e divergências do idioma. Outro ganho é para os mercados editoriais ampliando o seu leque de distribuição se todos falem e usem os seus livros. Queira Deus sem os racismos e conteúdos distorcidos existentes nos livros brasileiros sobre a África, que muitas vezes tratam em livros assuntos que divergem da realidade dos estudantes e eles perdem aos poucos a sua identidade, aprendendo muitas vezes mais sobre o outros do que sobre si mesmo e de seu território. O que a colonialidade mental do brasileiro não deixa ver.
Uma coisa que notei, e interessante, os estudantes timorenses têm educação doméstica dão “bom dia” aos professores. No Brasil estamos tendo seríssimos problemas com a violência na escola e falta de respeito do aluno para com o professor. O que o sistema brasileiro de educação e segurança deveriam se responsabilizarem e não fazem. Interessante que o Brasil que não preza nem um pouco pela educação do seu país vá educar os outros. O que me chamou a atenção foi a professora dizer da letra belíssima da estudante, o que raramente encontramos no Brasil. Antigamente utilizávamos caligrafia o que veio a ser cerceado, sob alegação de que o estudante não deveria ser castrado em sua criatividade, resultado pessoas com péssima caligrafia. Com o uso da caligrafia o estudante aprimora a sua escrita e a letra fica bonita, assim aprimorei a minha caligrafia. Espero que esses estudantes timorenses nunca deixem de falar as suas línguas maternas. Reitero. No Brasil somos um país unilíngüe, além de muitos não falarem o seu próprio português -brasileiro, corretamente mesmo tendo professores brasileiros nas sala de aula. Eles não se interessam por falar espanhol, muito menos inglês que estudamos desde a 5ª série e saímos sem falar nada de inglês, apenas conhecendo algumas palavras. Muitos deles afirmam que não sabem português para que aprender inglês e espanhol?


1 Professora da rede estadual da educação da Bahia. Mestra em Educação Brasileira – UFC. Doutoranda em Educação Brasileira UFC. Especialista em Met. do Ensino Superior e da Educação Física e em História Social e Cultura Afro-brasileira. Agência de fomento: CAPES/PROPAG.
2 Matéria disponível em: < http://revistaeducacao.uol.com.br/textos/198/o-desafio-de-ensinar-em-portugues-299835-1.asp. Revista Educação. Acesso em: 8 nov. 2013.

DE RACISMO A FEITIÇARIA, GOLEIRO EX-FLA PASSA POR AVENTURAS NA ÁFRICA DO SUL


DE RACISMO A FEITIÇARIA, GOLEIRO EX-FLA PASSA POR AVENTURAS NA ÁFRICA DO SUL
Rosivalda dos Santos Barreto1
A princípio informarei que o título desse escrito não é de minha autoria e sim de uma manchete do Globo Esporte disponível na internet2. O objetivo do texto é mostrar que quando nos colocamos diante da cultura alheia com a mentalidade ocidentalizada, alienada e racista, intuindo de que a nossa é melhor, corremos o risco de cometer erros grotescos como o do jogador Getúlio Vargas. O que fica explícito na fala do jogador é uma mentalidade alienada e racista subconsciente antinegro e anti-africana. Escreverei fazendo uma análise breve a partir da fala do jogador e do redator da coluna.
A matéria é sobre esporte, mas quando pensei em escrever sobre ela foi para explicitar que o racismo brasileiro se manifesta em todas as coisas e lugares. Vejamos o título da matéria: De racismo a feitiçaria, goleiro ex-Fla passa por aventuras na África do Sul, fica dez meses no Orlando Pirates e lembra que time deixou de treinar três dias por causa de funerais: ‘Eles são amadores no futebol’. A manchete é extremamente racista trata a forma de entender o mundo do time sul-africano por via do sagrado como feitiçaria. A matéria descreve que o jogador passa por aventura na África do Sul, parece que jogar na Europa também não é uma aventura, uma experiência fora do país natal. Na Eurocopa os jogadores negros forma advertidos a não levarem os seus familiares por causa do racismo. Quer dizer que jogar na África é uma aventura não um trabalho. Muitas vezes lemos esse tipo de título sem analisar as mensagens racistas subliminares e se aceita a fala de uma pessoa dessa pelo estado de alienação letárgico em que se vive. ‘De Racismo à Feitiçaria...’ Onde está o racismo na prática dos zulus ou na interpretação do goleiro Getúlio Vargas sobre o modo vivendis dos sul-africanos? E assim assina-se em baixo de falas vazias como essas. Vejamos abaixo as narrativas do jogador. Elas estarão sempre em itálico e em negrito para serem diferenciadas do texto que escrevo.
Um exemplo disso foi que perdemos três treinos na semana antes da partida decisiva pela Liga dos Campeões da África por conta de funerais de funcionários e ex-jogadores”. No Brasil convivemos com tantas barbaridades, crimes hediondos no nosso cotidiano que perdemos a noção de que a vida tem valor. Aqui se mata por qualquer coisa e não há punição. Para o jogador brasileiro as vidas de funcionários e ex-jogadores que contribuíram no plano físico não têm importância, tem menos valor que um treino, no seu modo de pensar deve existir amor ao treino e não á vida nem à pessoa. Ele enfatiza perdemos ‘três treinos’ e as vidas, e pessoas não perdemos? No pensamento africano tradicional e em muitas populações africanas na atualidade e na religião de matriz africana entendemos a vida em dois planos o físico e visível e invisível. No mundo visível temos as pessoas e no invisível os ancestrais que são o alicerce das populações africanas e protetores. Na África os funerais são importantíssimos, são rituais reverenciadores do morto é o rito de passagem de um plano de vida para outro, no caso das pessoas mais velhas. É o momento de agradecer e festejar as contribuições e importância daquela pessoa para cada povo. Isso está longe da compreensão do jogador que só conhece o treino. Em nossa sociedade apenas as celebridades são dignas de rituais e comoção como se as demais pessoas não fossem importantes.
Na Guiné-Bissau quando uma pessoa velha morre existe um ritual chamado desgosto. Nesse ritual se sacrifica até um boi e oferece-se a todas as pessoas vizinhas e familiares ou não. Nesse sentido podemos entender por que no período escravocrata os africanos foram violentados por não terem o direito de sepultar os seus mortos. No caso dos povos indígenas brasileiros proibidos de digerirem os seus mortos em ritos fúnebres. Rituais antropofágicos “selvagens” para as mentes colonizadas. Nesse sentido os rituais são importantes e vão além dos interesses capitalistas. A pessoa é um ente que morre não um pedaço de carne morta pronta para ser sepultada, cremada por preços exorbitantes de acordo com os planos funerários oferecidos nos grandes cemitérios.
Outro ponto fundamental é que a África não precisa de futebol para dizer ser a melhor do mundo. Quem precisa do esporte fazer autoapologia é o Brasil. Deveríamos nos sentir felizes se tivéssemos a melhor saúde, educação, distribuição de renda igualitária, justiça social, penalidade para políticos que cometem improbidade pública e crime contra o tesouro nacional e contra os bolsos dos contribuintes. De que vale ser o melhor no futebol e o pior em justiça social?
Assistiu a intromissão do dono do clube na escalação [...], se impressionou com os feiticeiros que cada clube tem na comissão técnica.” Interessante ninguém se impressiona quando o Papa visita países, diz que é contra o aborto e o uso do preservativo. Quando a igreja católica afirmou que negro e africano não tinham alma e por isso poderia ser cometido o crime da escravidão em massa dos africanos e afrodescendentes. Ninguém se impressiona com o desrespeito dirigido às pessoas que são professas do Candomblé ou Umbanda, quando os pastores evangélicos cometem crimes contra a população das religiões de matriz africana. A exemplo: “A Câmara Municipal de Piracicaba/SP, por unanimidade, com o apoio dos vereadores dos seguintes partidos: PT, PDT, PP, PPS, PTB,PR, PMDB, PRB, PSDB, aprovou em 7/10, o PL 202/2010 do vereador Laércio Trevisan (PR). Comentários em Piracicaba, informam que o referido PL. é parte de um MOVIMENTO chamado “ALIANÇA PARA A SUPREMACIA CRISTÔ, que tem por objetivo levar este projeto a outras cidades do Estado de São Paulo, depois, independente de quem seja eleito, encaminhar para a Câmara dos Deputados, através de deputados federais dos partidos envolvidos. Estes deputados, no momento, são mantidos no anonimato.”
Na religião tradicional africana não temos feiticeiros e sim sacerdotes. Até por que a palavra feitiço não existe nas línguas africanas, chegou ao continente com os invasores europeus, o que nos remete a dizer que feiticeiros eram os europeus. Os africanos utilizavam a sua prática religiosa para o equilíbrio do grupo.
A democracia é o respeito à opinião de todas as pessoas em decisões importantes e isso é um exercício africano. Os anciãos formavam um conselho para decidir junto com a população as tomadas de decisões importantes, essa intromissão, dita pelo jogador é exercício da democracia. No nosso caso quem se intromete são os patrocinadores por que estão pagando às equipes e apostam nos lucros e na alienação do povo que com isso vai comprar mais camisetas, chuteiras usadas pelos craques e bolas fabricadas pela Nike, Penalty, Dalponte, Miltre Tensile, Adidas, Puma, Umbro, Hummel, além dos jogos eletrônicos da FIFA. Na nossa democracia a opinião da população no país democrático não é levada a sério quando se trata de escalação de nenhum time.
Também ainda senti muito a questão da segregação. Isso me incomodou bastante. Acontecia dentro do próprio elenco. Existem divisões entre os próprios negros também. Isso porque são oito tribos e os zulus acham que são superiores aos demais”. Curioso é que esse jogador vive num país racista, com grandes índices de pobreza da maioria da população que é negra e o racismo institucionalizado equaciona desde a moradia até os serviços, devido ao racismo à brasileira. Os brancos no Brasil se sentem melhores que os negros isso está explicito nos livros didáticos, na mídia, nos empregos de maiores prestígios, nas recepções de muitas empresas, pessoas ainda são discriminadas por causa do cabelo e tem de alisá-los para conseguir empregos. As equipes de futebol voleibol, basquetebol equipes de pilotos de Fórmula 1, nadadores, tenistas em sua minoria são negros, deveria ser diferente porque no Brasil a maioria da população é negra, por que não é maioria nos locais de prestígio. Mais curioso é que ele saiu do Brasil, o país mais racista do mundo, não percebeu que nos locais onde ele transita não vê negros e só viu segregação, só, na África do Sul! Pior ainda, vê os africanos como povos tribais, denominação antropológica do início do século XIX.
Nossa diretoria leva essa rivalidade tão a sério que só podemos enfrentá-los no Soccer City, quando o mando de campo é nosso. Quando jogamos no Ellis Park sempre perdíamos. Ninguém do Pirates pode aparecer vestido de amarelo e preto, são cores do Chiefs. Lá do outro lado é a mesma coisa, ninguém usa preto e branco.” Esse jogador esquece que no Brasil quando ocorrem os clássicos acontecem mortes brigas intensas, não são provocadas pelas diretorias dos times, mas a violência acontece, será assim também na África do Sul, será que essa rivalidade extrapola o campo de futebol como no Brasil?
Cada time tem um ou dois feiticeiros. O nosso prepara um líquido vermelho antes de cada jogo e molha todas as camisas dos jogadores antes de vestirem. Além disso, somos proibidos de trocar as camisas depois das partidas. É a mesma coisa da primeira até a última rodada.” No Brasil celebramos missa, tomamos banhos de folhas escondido por causa do racismo antinegro, oferecemos camisas a santos padroeiros para que o time ganhe como vi várias no museu de Pe. Cícero em Juazeiro no Norte, inclusive autografadas. Todas as pessoas possuem energias, e elas devem ser direcionadas, as camisas utilizadas pelos jogadores estão envolta das energias de cada jogador por isso deve permanecer com eles. No pensamento africano tudo é energia, e força emanada do divino, o que chamamos de axé. Mas as mentes ocidentalizadas crêem no “ser ou não ser”, não conhecem situações intermediárias, têm o pensamento voltado para o positivismo.
O Benni McCarthy era o meu grande amigo no elenco do Orlando Pirates. Ele e Joseph Moeneeb, outro goleiro do time. Benni falava a minha língua (ele jogou no Porto) e tinha a cabeça aberta, por ter atuado na Europa. Ficava mais comigo por perceber que os outros não se enturmavam. Ele estava bem gordinho, fora de forma, mas é um bom jogador diferenciado, fora de série. Mesmo com todo o problema de peso, ele fazia a diferença para o Pirates”. Para Getúlio só se abre a cabeça indo jogar na Europa, ele esqueceu que com essa afirmação acusa-se de mente fechada caso não tivesse ido para jogar na Europa. O problema é que devemos ter a mente aberta para entender a cultura do outro, no caso do jogador isso não se aplica a entender e respeitar a cultura e modo de vida africana. Com o seu relato admite que teria a mente fechada se não tivesse ido jogar na Europa. Acusa os sul-africanos de serem fechados, quem se abre para pessoas racistas que não respeitam a cultura e modo de vida local? Expressa outro preconceito quando diz que o jogador está gordinho, mas é diferenciado, mas faz diferença no time? Por que diferenciado, por ter atuado na Europa?
A demissão de Julio Cesar Leal foi uma surpresa para todos. O trabalho dele estava ótimo lá. Tinha conquistado dois títulos e estava em segundo lugar no campeonato. O problema começou com o dono do time se intrometendo na escalação do time para o jogo de volta pela Liga dos Campeões da África. O Julio não gostou e depois disso o time acabou eliminado. A demissão entrou na conta dessa eliminação.” Primeira pergunta, o Julio jogou sozinho no time? Tem times na Europa que o dono também se intromete. Jogadores brasileiros negros são chamados de macaco, recebem cascas de banana de presente da torcida européia e nem por isso pedem demissão nem ficam traumatizados.
Cheguei em um momento que não estava mais feliz. Não agüentava mais a bagunça do clube e pedi pra ir embora. As coisas ficaram ainda piores depois da saída do Julio Leal, que me levou para lá”. Interessante Ronaldinho leva mulheres para a concentração do Flamengo e o mesmo clube está devendo 4 meses de salário para o mesmo jogador, é um time organizado? O problema é que o Getúlio Vargas, nosso jogador brasileiro estava na África do Sul pela presença do seu colega Julio Cesar. Dessa forma fica explicado por que os jogadores sul-africanos não se enturmavam.
No subtítulo Títulos da equipe. “Nesse ano que fiquei na África do Sul conquistamos três títulos. A MTN Cup (seis primeiros colocados da PSL e mais o campeão e o vice do ano anterior da MTN), a Telcom Cup (dez primeiros colocados do ano anterior da PSL) e a PSL (Campeão Africano). Conquistamos novamente a vaga para a Liga dos Campeões da África. Mas o projeto inicial de formar um time forte, com três estrangeiros, foi desfeito com a saída do Julio Cesar Leal”. Colonização européia foi um caos, um desastre e um crime contra o continente africano e para as Américas. Quem disse que time forte só se faz cm jogadores estrangeiros? A colonização deixou de ser territorial e se tornou mais letal ainda quando se transforma em colonização mental, essa atua no nosso subconsciente e nos deixa numa condição psíquica de baixa autoestima diante de um país europeu mesmo que seja mais pobre do que o nosso. Por que na Europa também existe fome e pobreza. A pobreza é uma construção do capitalismo assim como o racismo. Quando se contrata jogadores é por serem bons e não por serem estrangeiros.
As sociedades africanas são complexas e fogem ao entendimento ocidental. É difícil chegar ao centro da complexidade principalmente com a mentalidade colonizada, alienada e europocentrada. Mas, contudo o jogador pode aprender alguma coisa. “O fornecedor do clube organiza uma campanha para levar o time ao melhor colégio da África do Sul para um dia de atividades entre jogadores e os alunos. Nos surpreendemos quando chegamos em Limpopo, um subúrbio muito pobre de Joanesburgo. Fomos a um colégio que não tinha estrutura alguma para os alunos estudarem. Faltava salas, quadros, carteiras. As aulas eram ao ar livre. E mesmo assim o colégio teve uma aprovação de superior a 90% de acordo com o sistema nacional africano. Foi uma grande lição de vida. Valeu muito a pena ter participado e foi um dos grandes momentos que vivi na África do Sul. Serviu para tirar várias lições para a vida inteira.Queria ter tido a oportunidade de levar meus filhos lá depois, mas acabei não conseguindo.” Esse jogador vive fora da realidade, no Brasil vivemos essa situação desde o Brasil colônia, a educação é o último interesse político, vivemos greves graves e intensas dos profissionais da educação do nível superior, fundamental e médio. No ENEM as notas são baixíssimas nenhuma escola no Brasil consegue a média 10. Por que o jogador não teve a oportunidade de levar os filhos depois? Pensemos, não estaria ganhando um bom salário no Brasil? Ou teria outro motivo?
A organização e o nível do futebol brasileiro são outros e chegou a hora de voltar para casa. Ter essa rotina de concentração com brasileiros, falando português, e podendo jogar tendo amigos e familiares acompanhando tudo de perto. Lá fora ficamos um pouco isolados.” O isolamento dos jogadores fora é um fator comum, por que os jogadores africanos que tinham de se enturmarem? Na verdade a cultura é um fator importante para a adaptação de qualquer pessoa fora de seu habitat, mas uma coisa importante é chegarmos em qualquer lugar que seja e entender a cosmovisão do outro e respeitar a diversidade dos povos.
Deixo como mensagem esse reggae de Lucky Dube para uma boa reflexão!


Cores diferente / um povo 
Quebrar aquelas barreiras
No mundo todo
Não foi fácil
Ontem você estava de boca calada
Não podia emitir som algum
Mas hoje a sensação é tão boa
Quando posso ouvi-los
Do outro lado do oceano cantando essa música
Que o mundo todo devia estar cantando
O tempo todo

(Refrão 3x)
Nós temos...
Cores diferente / um povo
Cores diferente / um povo

Ei, vocês aí do governo
Nunca tentem separar o povo
Ei, vocês, políticos
Nunca tentem separar o povo

Eles foram criados com a imagem de Deus
E quem são vocês para separá-los
A bíblia diz que ele criou o homem com sua imagem
Mas não dizia se era preto ou branco
Olhe para mim e você verá o preto
Eu olho para você e vejo o branco
Agora é a hora de deixar isso pra lá
E se unir a mim na canção

(Refrão 3x)

Ei, vocês, políticos
Nunca tentem separar o povo
Ei, vocês, homens, vocês, homens
Nunca tentem separar o povo

Alguns eram dos EUA
Nós éramos da África do Sul
Alguns eram do Japão
Nós éramos da China
Alguns eram da Austrália
Nós éramos do Reino Unido
Alguns eram de Zimbábue
Nós éramos de Gana
Alguns eram da Jamaica
Nós éramos da Rússia
Alguns eram de Aha-ha-ha
Nós éramos de Uhu-hu-hu

Obrigada por me darem a oportunidade de ler esse meu escrito!


Referência bibliográfica em formato eletrônico
PEIXOTO, Eduardo. De racismo a feitiçaria, goleiro ex-Fla passa por aventuras na África do Sul. Matéria disponível em: <http://globoesporte.globo.com/futebol/futebol-internacional/noticia/2012/05/de-racismo-feiticaria-goleiro-ex-fla-passa-por-aventuras-na-africa-do-sul.html>.Rio de Janeiro. Mai, 2012. Acesso em: 30 mai.2012.

DUBE, Lucky. Different Colours. Disponível em: <http:// www.vagalume.com .br/lucky-dube/different-coloursone-people-traducao.html>. Acesso em: 30 Mai. 2012.

1 Doutoranda em Educação Brasileira. Faculdade de Educação da Universidade Federal do Ceará. Linha de Pesquisa: Movimentos Sociais Educação Popular e Escola. Eixo Temático: Sociopoética, Cultura e Relações Étnico-raciais. Agência de fomento CAPES/PROPAG.
2 Link onde está disponível o texto < http://m.glob oesporte.globo.com/futebol/futebol-internacional/noticia/2012/05/de-racismo- feiticaria-goleiro-ex-fla-passa-por-aventuras- na-africa-do-sul.html>.

RESPEITO, NÃO TOLERÂNCIA RELIGIOSA!


RESPEITO, NÃO TOLERÂNCIA RELIGIOSA!


Rosivalda dos Santos Barreto1


O título desse texto pode ser polêmico, mas explicarei no decorrer dos parágrafos o ponto onde quero chegar! Objetivo aqui relatar dados da pesquisa da professora Dra. Stela Guedes Caputo, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, no que toca ao racismo antinegro. Ao desrespeito religioso no ambiente escolar e como professores e escola participam do racismo antinegro. Esse crime é cometido contra as pessoas negras e brancas devotas do candomblé. A pesquisadora aponta a necessidade que as crianças têm de omitir, dissimular ou mentir para se proteger contra os ataques racistas que as atingem diretamente numa das coisas que elas mais amam, a sua religião!
A professora Dra. Stela Guedes, no início da década de 1990 buscou temas para redigir uma matéria em Mesquita, Baixada Fluminense. A matéria se intitulou ‘Os netos de santo’, foi originada no Terreiro da Mãe Palmira. Nesse terreiro a pesquisadora encontrou o candomblé e se surpreendeu com a presença de um ogan que tocava os atabaques, uma criança do sexo masculino, branca, com idade de 4 anos. Pergunto-me, o que surpreendeu a educadora, o fato de ser a criança branca atuando numa religião de negros ou a idade da criança?
A professora declara que ficou encantada por que não sabia que no candomblé crianças também poderiam ser devotas. Novamente pergunto, crianças podem ser devotas nas igrejas Assembleia de Deus, Universal do Reino de Deus, Testemunhas de Jeová, Católica, Batista? Por que as pessoas não se surpreendem com a presença de crianças nas religiões judaico-cristãs? Depois de ver que crianças também têm direito de serem adeptas do candomblé, a pesquisadora fez uma grande investigação que resultou nos seus estudos de mestrado e doutoramento. Desses estudos foi publicado o livro ‘Educação nos terreiros’. O campo de sua pesquisa foram os terreiros de Mãe Beata, Mãe Palmira e Mãe Regina, na Baixada Fluminense e no culto aos Eguns, de Pai Lelson, em Belford Roxo.
O resultado da pesquisa apontou o ambiente de terreiro como espaço educativo. Nele as crianças aprendem e conhecem sobre mitos, ervas, culinária, hierarquia, língua ioruba, música, toque dos instrumentos musicais representados nos atabaques. Dentre estas coisas exibem o orgulho de professarem o candomblé, no entanto elas enfrentam o crime do racismo na escola. O ambiente escolar explicita a perpetração do racismo antinegro. Nele para se defenderem dos ataques racistas, as crianças se declaram católicas. Ao que a professora menciona que elas utilizam estratégias de proteção, inventam doenças, por que tem de raspar a cabeça e usar branco, até que contraíram leucemia ou outra doença para esconder o período que permanecem reclusas por conta de sua iniciação. A Dra. Estela Guedes alude ser essa tática estratégias de sofrimento por que as crianças são impelidas a esconder o que amam.
O desrespeito á religião afro-brasileira é racismo antinegro e é importante então que saibamos distinguir o que vem a ser preconceito, discriminação racial, racismo, racismo antinegro e etnocentrismo. Entender esses conceito nos habilita a não minimizar o racismo nem a discriminação, mas nos informa que as crianças brancas são discriminadas por serem de candomblé, uma religião de matriz africana. As crianças negras sofrem de racismo antinegro, são rechaçadas por serem candomblecistas e pelo seu fenótipo: cor da pele, cabelos crespos, lábios, intelectualidade entre outros atributos que as inferiorizam diante dos demais.
O preconceito é segundo o dicionário Aurélio é,
1. Conceito ou opinião formados antecipadamente, sem maior ponderação ou conhecimento dos fatos; idéia preconcebida. 2. Julgamento ou opinião formada sem se levar em conta o fato que os conteste; prejuízo.
O Preconceito racial é “um julgamento negativo e prévio dos membros de um grupo racial de pertença, de uma etnia ou de uma religião [...]” (GOMES 2005, p. 39-62). Esse tipo de atitude gera inflexibilidade diante das contestações em contrários. Tudo que se referir às(os) negros(as) é feio, sujo e ruim.
O racismo de acordo com Gomes (2005, p. 52)
[.] é um comportamento, uma ação resultante da aversão, por vezes do ódio, em relação às pessoas que possuem um pertencimento racial observável por meio de sinais, tais como: cor da pele, tipo de cabelo, etc. e por outro lado um conjunto de idéias e imagens referentes aos grupos humanos que acreditam na existência de raças superiores e inferiores.
Na esteira do significado da palavra discriminar como “distinguir”, “diferenciar”, “discernir”, A discriminação racial é a efetivação do racismo (GOMES, p. 55) É a adoção de práticas racistas a exemplo do desrespeito às pessoas negras pela cor de sua pele e textura do seu cabelo e pelas práticas candomblecistas por equivaler à religião dos negros, nas mentalidades dos racistas.
O racismo estrutural antinegro se constitui na situação vivida pelos afrodescendente no Brasil. Esses vivem cerceados e excluídos dos processos educacionais, políticos, econômicos e sociais no Brasil, numa situação de manutenção de sua pobreza em territórios equacionados pelo capitalismo racista. A maioria da população pobre é negra, semi-analfabeta, desempregada, vivem em bairros desassistidos pelos poderes públicos, sem saúde, nem posse de terras, morando em favelas quase que totalmente desestruturadas. Outro fato importante a ser notado nesse artigo é o racismo antinegro que envolve, o desrespeito com a religião do afrodescendente, o Candomblé e a Umbanda.
Parte desse racismo no que tange á religião pode ser compreendido como destaca Cunha Junior,
A parte terrena das religiões tem servido de base para justificar e fomentar racismos. Em nome da religião têm sido difundidas idéias racistas contra a população negra. Dizer que Macumba, Candomblé, Umbanda são coisas do demônio trata-se de um desconhecimento das religiões africanas onde não existem diabos e satanás. Também trata-se de uma forma de desqualificar, entre a população, estas religiões e impor o medo com relação a elas, transformando este medo em diversos conceitos pejorativos contra as culturas negras, realizando através do pensamento, supostamente religioso, uma forma de racismo contra as populações negras e contra a cultura negra.
Jesus Cristo, os anjos e santos são brancos e loiros, exceto Nossa Senhora aparecida, São Benedito, que é um santo mouro, povos islamizados do noroeste africano. Santo Antonio de Categeró (África Cirenaica), Santa Ifigênia e Santo Elesbão ambos etíopes.


[...] Várias das imagens e idéias religiosas relacionam o Divino com as figuras loiras, de longos cabelos e faces européias de pessoas, que não existiram em terras africanas e do Oriente Médio. Muitos religiosos omitem ou negam a provável cor da pele das principais figuras do cristianismo. Muitos eliminaram as imagens, realizando através de palavras o convencimento de que eram pessoas brancas. Assim, existe um processo complicado com relação a estas posturas, processo que não tem nada de religioso, mas apenas de relações com valores do racismo.
[...] Nas escolas religiosas, em representações teatrais, as meninas e meninos negros são impedidos de representar os anjos. Porque, dizem os educadores, não existe anjo negro. Esta é uma idéia racista. Afinal, não conhecemos estes anjos, trata-se apenas e simplesmente, de uma representação. (CUNHA JUNIOR, 2010)
A umbanda e o candomblé e são alvo do racismo antinegro. A professora Dra. Stela Guedes em entrevista, destaca2 que a religião do candomblé não discrimina as pessoas pela cor, raça ou orientação sexual. Muito menos famílias formadas a partir dessa orientação. Ou seja, é uma religião plural. Eu afirmo que o candomblé é uma religião mais que plural, ela incorpora pessoas a outras práticas religiosas. É adepta da harmonia, ao equilíbrio universal, ou seja o maât, que se assenta na filosofia egípcia. Que tem relação com o asé e como o ntu. Esse equilíbrio diz respeito a todos os seres animais, vegetais e minerais, presentes na filosofia egípcia sustentando toda a filosofia africana tradicional e de base africana no Brasil presentes nas religiões afro-brasileiras. Na filosofia egípcia o maât expressa
La nature Du Maât
Les anciens Egyptiens affirmaient l’existence d’um ordre supérieur, vivant em éternel: Maât, soit La justice-vérité, c’est l’órdre cosmique déifié. Des lors, La vie int´rrieure, Sn approfondissement, as prefection, será l’exercice meme de l’intelligence (BASSONTG apud Obenga, 2007 p. 47)
Na filosofia banto O ntu é
o princípio da existência de tudo. “O Muntu é a pessoa constituída pelo corpo, mente, cultura e palavra. O Ubuntu, a existência definida pela existência de outras existências. Eu nós existimos porque você e os outros existem, tem um sentido colaborativo da existência humana coletiva nisto [...]. A natureza como respeito profundo a vida. [...] (CUNHA JUNIOR 2010, p. 26-31)
Na filosofia ioruba o asè é a força a energia que circula que provem do divino e perpassa por todos os seres
É a força que assegura a existência, que permite o acontecer e o devir. Sem asè, a existência estaria paralisada, desprovida de toda a possibilidade de realização. É o princípio que torna possível o processo vital. Com toda a força o asè é transmissível, é conduzido por meios materiais e simbólicos e acumulável. É uma força que só pode ser adquirida por introjeção ou por contato. Pode ser transmitida a objetos e a seres humanos. [...] é a força invisível, a força mágico-sagrada de toda divindade. [...] o terreiro, todos os seus conteúdos materiais e seus iniciados, devem receber asè, acumulá-lo, mantê-lo e desenvolve-lo. (SANTOS 2008, p. 39)
A religião tradicional africana e de matriz africana não promovem discórdia nem supremacia de Deuses, todos devem ser respeitados. Horizontalidade e verticalidade se confluem evidenciando a circularidade e respeito à hierarquia por conta do respeito aos mais velhos. As relações independem do poder aquisitivo do adepto, existe um laço familiar do terreiro. Nessa relação de transversalidade de forças e energia estão os ancestrais, os seres divinizados (orixás) e as pessoas (as ialorixás, o babalorixás e seus filhos).
De acordo com a entrevista da Dra. Stela o racismo não diminuiu, o que se modificou foi o enfrentamento. As crianças brancas enfatizaram que são discriminadas na escola por professarem a religião de negros. No entanto, o próprio racismo impulsiona as crianças a se mobilizarem na luta antirracista. As que foram entrevistadas na década de 1990, hoje adultas entendem que há necessidade do combate ao racismo, por que a discriminação não para. A força e coragem para a mudança vêm dos terreiros e da família de terreiro que forjam laços de identidade, raça, religião e participação nas redes sociais.
A escola que deveria ser o locus do exercício da cidadania e promoção do respeito à diversidade é o ambiente que promove o enfraquecimento da luta antirracistas. Os professores em sua maioria são católicos e evangélicos e reforçam o racismo. Segundo os relatos das crianças de terreiro, se dependesse da escola continuariam se envergonhando da si, da religião e da sua cor.
A pesquisadora Dra. Stela Guedes declara que a constituição brasileira sofre de esquizofrenia por que garante o estado laico, contudo incentiva o ensino religioso nas escolas. Permite a adoção de livros didáticos católicos, ou judaico-cristãos. Urge a necessidade de formação dos professores para o entendimento das relações ético-raciais e respeito da religião afro-brasileira. O racismo antinegro é maléfico porque confronta a população negra, coloca negros contra negros no que tange à religião. Negros protestantes, católicos contra negros candomblecistas e umbandistas de forma que a alienação e o racismo não permitem o exercício do respeito às pessoas.
O que significa tolerar? Tolerar. 1. Ser indulgente para com. 2. Consentir tacitamente. 3. Suportar. Vejamos! Não é do que precisamos! Exigimos é respeito, capacidade moral de respeitar a profissão religiosa de qualquer pessoa por que os devotos da umbanda e candomblé não saem pelo mundo desrespeitando as crenças alheias nem promovendo a auto-apologia. È importante notar que quem iniciou essa saga racista e intolerante foi O Papa Nicolau V emitindo a bula diversa para o Rei Afonso V em 1455. Nela dava plenos poderes ao rei de conquistar mulçumanos e pagãos, daí vem a submissão compulsória dos povos conquistados, dentre essa submissão está a religiosa.
Diferente das demais religiões, a religião afro-brasileira incorpora elementos de outras religiões sem nenhum problema de existência. Entende que em todas as religiões existem os rituais que tem em Deus sua única fonte de energia, e que essa está disponível para todos os seres do planeta.
Referências
BASSONG, Mbog. La methode de La philosophier africaine: de l’expresion de La pensée complexe em Afrique noire. L’Harmattan, Paris, 2007.
SANTOS. Juana Elben dos. Os Nãgõ e a Morte: Pàde, Asèsè e o culto égun na Bahia. Tradução UFBA. 13 ed. Petrópolis: Vozes, 2008.
CUNHA JUNIOR. NTU: Introdução ao pensamento filosófico bantu. In: Revista Educação em Debate. v. 1. n. 59. ano 32. Fortaleza: Editora UFC. 2010.
______________. Educador, você participa do racismo antinegro! In: Formação cidadã: currículo e transversalidade. (Orgs.) OLIVEIRA, Joyce Carneiro; FICK, Vera Maria Soares; SOUZA, Vinícius Rocha Souza. Fortaleza: Expressão Gráfica Editora, 2011, UFC.
GOMES, Nilma Lino. Alguns termos e conceitos presentes no debate sobre relações étnico-raciais no Brasil: uma breve discussão. In: Educação Anti-racista Caminhos Abertos pela Lei Federal 10.639/03. MEC. 2005.


1 Doutoranda em Educação. Faculdade de Educação da Universidade Federal do Ceará. Agência financiadora CAPES/PROPAG. Mestra em Educação pela UFC. Licenciada em Educação Física pela Universidade Católica do Salvador.