segunda-feira, 11 de março de 2019

CARNAVAL 2019: O MUNDO ESCOLHEU SALVADOR!

Em 2019, a prefeitura disse que  O MUNDO ESCOLHEU SALVADOR. POR QUE A PREFEITURA FAZ O CARNAVAL PARA TODO MUNDO! Eu fico me perguntando, mas.... quem é todo mundo? Seria todo mundo de Salvador, da Bahia, do Brasil e do mundo? Seria preto, branco? Um caso a se pensar.

Vivemos num país onde proclama-se a igualdade entre as pessoas. Uma mentira por que todos somos diferentes. O que deve ser respeitada é a diversidade, a cultura a religiosidade dentre outras coisas. Contudo vivendo no autoengano, as pessoas repetem isso como uma verdade absoluta, vivendo fingindo que o racismo não existe no Brasil. Vivendo eternamente na negação e acreditando na mentira que inventou

Na cidade onde o carnaval é para todo mundo o gerente do banco Caixa Econômica Federal, agência das Mercês, destratou um cliente por ser negro, chamou a polícia e exigiu que o cliente saísse da agência algemado. Segundo o gerente não lida com gente do tipo do cliente, negro. Pior a atitude dos policiais agredindo o cliente que não ofereceu nenhuma resistência. Como capitães do mato, obedeceram a exigência do gerente branco, ou quase branco!


O fato acima aconteceu na Bahia onde o carnaval é feito para todo mundo.


Nos itens abaixo mais tratamento "igual" para todo mundo no carnaval de Salvador.

1 - Os vendedores ambulantes em sua maioria são negros, homens e mulheres. As crianças ninguém sabe onde ficam. Mas, no trio elétrico de Daniela Mercury a propaganda, denunciando o abuso do trabalho infantil. Tá certo, os vendedores ambulantes e catadores de lixo, fazem esse trabalho por que gostam  e os filhos deles ficam fascinados e escolhem catar latinhas de cerveja a brincar o carnaval  no Pelourinho. Mas, com o desemprego como não trabalhar? Entristeci-me ouvindo um garotinho perguntando se poderia trabalhar com o pai. O pai respondeu negativamente. O trabalho era catar latinha. Eu pensei que situação terrível para uma família viver de forma degradante catando lixo. E acho mais interessante ainda as pessoas conceberem normal uma pessoa catar lixo. Tem o apelidam de forma amena como reciclador,  e estes são responsáveis pela coleta de 90% do lixo no Brasil. Normal, mas quem quer viver catando lixo? Claro que num país onde reside o egoísmo catar lixo é normal, desde que não seja nenhum familiar. 

Retomando os vendedores ambulantes, esses recebem maus-tratos desde que pagam uma taxa para trabalhar durante as festas populares soteropolitanas, até quando vão confirmar o credenciamento. Neste ano de 2019 estes trabalhadores temporários foram agredidos por agentes da GCM (Guarda Civil Municipal). Mas, qual é o papel desses agentes? De acordo com a legislação a Guarda Civil Municipal no

Art 252. Fica criada a guarda municipal à
 I - proteção dos bens do Município;
II - disciplina no trânsito;
III - proteção ao meio ambiente, à propriedade e equipamentos urbanos;
IV - colaboração com o cidadão, objetivando desenvolver o convívio social, civilizado e fraterno.


A GCM em vez de desenvolver o convívio social promove a violência por onde passa.


No vídeo acima a GCM demonstra o quanto desconhece as próprias normas agredindo um policial militar durante o réveillon.

Abaixo o trabalho da mesma GCM no trânsito, agredindo uma pessoa arbitrariamente. Esses agentes são pessoas mal educadas e sem conhecimento do seu papel e do que significa educação, cidadania e respeito.


No caso dos vendedores ambulantes agredidos não existe registros na internet. A matéria foi divulgada por meio de um programa de TV que vai ao ar ao meio-dia. Tais agentes entendem que todo negro é suspeito e ladrão e merecem maus-tratos, são completamente despreparados, mal educados, desrespeitam a lei e promovem a desordem, sem compromisso com o serviço que prestam. Estes confundem o seu trabalho com o da PM, que também age igualmente quando se trata de uma pessoa negra. Exemplo, cliente agredido na Caixa Econômica Federal.

2- Inicialmente os negros soteropolitanos saíam no carnaval em blocos com denominação de populações indígenas. O primeiro bloco "de índios" surgiu no bairro da Liberdade, Os Aymorés (1934). Na sequência vieram 1960, o Cacique do Garcia, depois os Apaches do Tororó e no final dessa década os Comanches do Pelô, Navajos, Sioux, Peles Vermelhas, Cheyenes, Nuvens Negras e Moicanos. Todos eles tinham compositores, músicos, bateristas e cantores fenomenais. É digno de nota a não identificação da população negra com a cultura brasileira. Visto que depois do primeiro bloco apenas Os Tupys,  nenhum mais se identificava com nomes de populações indígenas brasileiras. Um problema sério de identidade nacional.Os negros soteropolitanos para além das agremiações anteriormente citadas se somava aos blocos os Estudantes, os Fidalgos, os Românticos, Bebê de Proveta de Plataforma etc.

E os afoxés? É sabido que entre 1894 e 95 surge o primeiro em Salvador. Estes representativos de terreiros de candomblés, desfilavam na Baixa dos Sapateiros, Taboão e Barrroquinha área não considerada nobre. Em 1949 surge um dos primeiros os Filhos de Gandhy, formado pelos estivadores baianos, homenageando Mahatma Gandhy assassinado no ano anterior. No ao de 1896 é seguido pelo Pândegas da África.

O Afoxé Badauê desfilou na Avenida, atual circuito do Campo Grande (atualmente não é considerado nobre) entre os anos de 1979 a 1992. Era administrado pelo Grupo União Formado por Jorge, Mário e Jacira Bafafé. Sem esquecer a figura emblemática de Moa do Katendê e Ninha, ex-vocalista da Timbalada. Este também foi vocalista do Bloco Secos e Molhados do Tororó por vários anos. Existiam também o Afoxé Monte Negro, Filhos do Congo. Nessa esteira também surgem o Ilê Ayiê, Olodum, Ara ketu, Muzenza, Malê de Balê, Bankoma, Cortejo Afro, Filhas de Gandhy. Mas, o racismo não descansa em Salvador. Por falta de patrocínio, horários de desfiles impróprios e sem transmissão a organização do carnaval vai minando a participação dos blocos afro e dentre eles ainda resistem apenas o Olodum, Muzenza, Filhos de Gandhy, Filha de Gandhy, Ilê Aiyê e Bankoma.

Por que não patrocinar blocos negros se os maiores consumidores na festa momesca são os negros? Se a maioria da população de Salvador é negra? A única resposta é por serem racistas. Estes blocos contam com a parceira do Governo do Estado com o Projeto Ouro Negro (para encontrar o edital no site da SEcult é dificílimo); e no passado pela Petrobras e hoje também participa do patrocínio a Bahia Gás. As empresas privadas patrocinam com grande felicidade os blocos de Daniela Mercury, Ivete Sangalo,  Bel Marques, Jamil, Saulo. O Tatau, no dia que desfilou no Campo Grande puxando a sua pipoca, a única emissora televisiva que transmitia a festa era a TV E, e esta focalizava apenas as mulheres brancas e loiras que estavam em cima do trio. Em nenhum momento focalizou no artista, Tatau, nem no Youtube existe o vídeo. Se buscarmos nesta rede cantores brancos não faltarão vídeos para serem assistidos.

É digno de nota que muitos cantores brancos soteropolitanos se consagraram cantando músicas afro e de compositores negros. Estes mesmos negros invisibilizados que servem de bengala para dar luz a cego, os brancos. E continuam dando essa luz. Onde estavam Margareth Menezes, Carlinhos Brown, Jauperi dentre outros artistas negros no carnaval que é feito para todo mundo em Salvador?

Segundo a prefeitura precisava organizar o carnaval. Essa organização veio no sentido de esvaziar o carnaval do Campo Grande e manter o apartheid cansavalesco.  Nesse local a maioria das pessoas são negras e não é a imagem que a prefeitura e governo do Estado da Bahia querem tornar visível para todo o mundo de verdade. Os gestores soteropolitanos se envergonham da população negra soteropolitana, mas ganha dinheiro veiculando a cultura dela. O circuito do campo Grande fica reservado a atrações sem expressão, contudo o da Barra/Ondina se reserva aos(a) artistas consagrados pela mídia. Cantores de peso como Baby Consuelo, Gerônimo, Paulinho Boca de Cantor, Pepeu Gomes, Lazzo Matumbi, Edson Gomes e alguns citados acima foram banidos do carnaval. O trio de Dodô e Osmar, de acordo com o que vemos no carnaval, também não é para todo mundo, por que os foliões do Circuito do Campo Grande não veem nem fumaça. Analisando bem, artistas com a mesma mentalidade alimentam essa desigualdade no carnaval de Salvador. Por um milagre esteve presente durante 2 horas, na Praça Castro Alves o grande Moraes Moreira trazendo músicas maravilhosas.

A prefeitura se esforçou bastante e  dizimou o tradicional encontro dos trios e de belos artistas na Praça Castro Alves. Esse que era o carnaval de todo mundo. O carnaval de Salvador é o da segregação. Existem lugares para negros como vendedores, ambulantes, cordeiros (pessoas que puxam as cordas do bloco para ganhar 50 reais ao dia) e catadores de latinhas da cerveja que patrocina o carnaval.



Fonte: Geografia em primeiro ligar. Marília Lomanto Veloso

Quem ganha nesse carnaval os donos de camarotes, das cervejarias e a prefeitura que pouco investe na cidade do Salvador. Procure um remédio no posto de saúde!

Fonte: Pragmatismo Político.

A Prefeitura diz, no carnaval O MUNDO ESCOLHEU SALVADOR. POR QUE A PREFEITURA FAZ O CARNAVAL PARA TODO MUNDO! E eu digo, todo mundo é o mundo branco da cabeça da sociedade soteropolitana e de seus governantes.
O negro serve para aparecer nas imagens das festas, usado pela prefeitura e depois esmagado sem direito a usufruir do carnaval como todo mundo. O negro soteropolitanos no carnaval de Salvador, não faz parte de todo o mundo.



A Rede Bahia celebrou parceria com os Blocos Afros, neste dia contou coma as presenças dos blocos Olodum, Ilê Aiyê, filhos de Gandhy, Malê de Balê, Muzenza e Cortejo Afro. Mas diante da infinidade de blocos citados anteriormente por que apenas com componen6 blocos? Com essa parceria celebrada, por que estes blocos não tem patrocínio como os blocos dos brancos? E na transmissão, esses blocos só têm visibilidade se desfilarem no circuito Barra/Ondina. Muitos blocos passaram a desfilar neste circuito por que as celebridades globais queriam ver os blocos, mas não admitia se deslocar para o Campo Grande. E como os governantes soteropolitanos sofrem de baixa autoestima, cederam! O povo ingênuo, ainda não se deu conta do significado do carnaval da Barra e de Salvador. Este é o da segregação, que quer ver o preto, apenas como vendedor ambulante e catador de latinhas de cerveja. Num papel que mantém a desumanidade e segregação ainda cimentada na mentalidade colonial e racista.

A publicidade. O negro não passa de mera figura decorativa utilizado como insturmentus dancantis e instrumento sorrisis, por que divertindo-se apenas os brancos. Onde está o artista, cantor negro Léo Santana, Márcio Vitor na publicidade do nosso carnaval? Inexiste! O vídeo, analisado atentamente se pode observar nas entrelinhas do racismo e segregação no carnaval de Salvador. É bem revelador de como a prefeitura faz o carnaval para todo mundo.


São estas as minhas reflexões para o carnaval de Salvador e como o mundo o encontra por ele ser feito para todo mundo.



Referências


Criação da Guarda Municpal de Salvador.<http://guardamunicipal.salvador.ba.gov.br/index.php/legislacao>

Aymorés. O primeiro bloco de índios do Carnaval da Bahia? <http://blogs.ibahia.com/a/blogs/memoriasdabahia/2017/02/13/aymores-o-primeiro-bloco-de-indios-do-carnaval-da-bahia/>.

TV Bahia firma parceria com blocos Afro para Carnaval 2019.
<https://www.ibahia.com/entretenimento/detalhe/noticia/tv-bahia-firma-parceria-com-blocos-afro-para-carnaval-2019/>.

Uma viagem pelo carnaval da Bahia de 1884 a……….
<https://abahiadetodosospovos.wordpress.com/tag/o-afoxe/>


Badaué, o mais admirado afoxê em inícios da década de 1980.
<http://blogs.ibahia.com/a/blogs/memoriasdabahia/2017/02/20/badaue/>
Mas, protagoniza o contrário.

Boa leitura!
Rosi Barreto

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