AFRICA:
ENTRE ACOMODAÇÃO, NEGAÇÃO E AFIRMAÇÃO.
ACOMODAÇÃO:
COLONIALISMO, ÁFRICA POR ELA MESMA,
Este
texto foi produzido para uma palestra na Universidade Estadual de
Feira de Santana num evento organizado pelo Núcleo de Estudos
Africanos e Indígenas.
Hoje
é o dia em que a nação brasileira comemora o Dia da Consciência
Negra, 20 de Novembro. Ele foi aprovado no calendários escolar em
2003, mas foi com a lei 12.519,
de 10 de novembro de 2011 que foi aclamado em nível nacional. Esta
data foi eleita por que coincide com o dia do assassinato de Zumbi
dos Palmares no ano de 1695 por Domingos Jorge Velho, que recebeu
recompensa em dinheiro, terras e uma missa em ação de graças.
Este
texto que foi produzido para uma palestra na Universidade Estadual de
Feira de Santana, no ano de 2012. Hoje resolvi postá-lo
em homenagem a nós, todos os negros e negras que resistem ao
extermínio, ou genocídio,
etnocídio, feminicídio e infanticídio
desde 1549 quando chegou ao Brasil, o primeiro navio que traficava
pessoas africanas escravizadas
de forma criminosa.
O
tema que sintetizarei é complexo, primeiro
por que o continente africano
não é homogêneo, aliás, nada é homogêneo em nenhum lugar. Onde
existem homens e mulheres, pessoas, não existem homogeneidades,
existem complexidades, hetrogeneidades e diversidade. Essa
complexidade se agrava com o desconhecimento e
ignorância da sociedade
brasileira sobre a sua própria
história e
a do
continente africano. O
Brasil amputou a história do(a) negro(a) e dos aborígenes
brasileiros(as) e da África de nossos currículos escolares, em vez
disto nos foi oferecido em doses cavalares conhecimentos sobre o
continente do colonizador, o europeu. Foi
tão forte que não nos
sensibilizarmos com as nossas desgraças, mas com as desgraças do
colonizador que vem cometendo atrocidades desde séculos conosco
e com os outros que consideram pessoas de segunda categoria.
A África não é uma massa
atrasada como afirma Gramicsi no livro ‘Os Intelectuais e a
Organização da Cultural’ (1982, p. 20). Existe diversidade
étnica, cultural, religiosa, social, política; história, escrita,
organicidade e inteligência nas sociedades africanas. No continente
africano existe uma infinidade de línguas fazeres e saberes étnicos.
Contudo devemos compreender como nos aponta Cheick Anta Diop que
existe unidade na diversidade africana.
DA
ACOMODAÇÃO
O
continente africano nunca se acomodou, muito
menos os africanos no Brasil nem os africanos-brasileiros, na
formulação de Luz(). Em quais
aspectos podemos pensar que existiu acomodação no continente
africano? Essa quase que acomodação transparece por que não
conhecemos nem entendemos
ao certo a forma como o colonialismo vigorou e neo colonialismo se
retroalimenta no continente. Parece que os genocídios,
etnocídios, a fome e outras sabotagens barram o continente africano
e sua forma de resistência e enfrentamento. Segundo,
os(as)
africanos(as)
tiveram e têm que enfrentado
crimes
que atentaram e atentam
contra a sua cultura, expressão religiosa e suas próprias vidas. A
invenção da arma de fogo e da metralhadora foi importante para a
colonização. A Maxim foi utilizada pela primeira vez numa operação
militar no Egito, oferecida por Hiram Maxim às forças Britânicas
de, 1886 a 1890. Depois foi utilizada na campanha de pacificação,
dos Boeres também em África. Por que em África? Quantas pessoas
foram assassinadas nesse período, além dos outros tantos que
morreram durante o tráfico negreiro criminoso? Qual o problema do
continente africano é a sua riqueza ou pobreza? São questões a
serem refletidas.
O
continente africano e os afrodescendentes não se deixam acomodar
totalmente mesmo com todas as adversidades que encontram e encontram
pelo caminho. As suas formas de luta são invisibilizadas pelo
sistema político, social e econômico capitalista
racista de maneira geral, o que
nos deixa a impressão de uma acomodação. Embora exista de certa
forma, não é uma máxima. No Brasil a cultura de base africana
representada nas irmandades, religiosidade, capoeira entre outras,
são maiores exemplos de coragem da população negra contra o
racismo. Basta pensarmos em mulheres como Kimpa Vita (Congo) que
fundou o movimento antoniano (M’Bokolo), Nzinga (Angola) contra o
tráfico transatlântico criminoso (Luz) e Sarraounia (Níger) contra
os franceses. E as brasileiras
Luiza Mahim, Zeferina, Dandara, Mãe Stela ialorixá do Ilê Axé
Opôafonjá, Mãe Beata, Carolina Maria de Jesus dentre outras,
Outros
exemplos estão nos africanos que interessados
em desenvolver sua própria marcha desenvolvimentista e moderna,
segundo seus preceitos e cosmovisão foram brutalmente assassinados a
exemplo de em: 1957, Dedan Kimathi (Quênia); 1958, Reubem Um Nyobe
(Camarões); 1959, Bathelemey Boganda (Rep. Centro Africana); 1960,
Felix-Rolant Moumié (Camaõres), De acordo coma nota de rodapé
Moore (2008, p.49) denuncia que esse líder africano, importante
téorico pan-africanista, dirigente Da União das Populações de
Camarões (UPC). Foi assassiando com o veneno Tálio, em um hotel em
Genebra, Suiça, pela “Mão Vermelha”, uma seção do Serviço de
Inteligência Francesa (SDECE) que se encarregava, na época, de
exterminar os dirigentes nacionais africanos nas colônias francesas.
1961, Jean-Pierre Finant (Congo), Joseph Okito, Maurice Mpolo e
Patrice Lumumba (Congo Kinshasa), Primeiro-Ministro do Congo,
assassinado num complô orquestrado pelos EUA, Bélgica e França Op
cit.
Em
1963, Sylvanus Olympio (Togo); 1965, Mehdi Bem Barka (Marrocos);
1966, Ossende Afana (Camarões); 1968, Pierre Mulele (Congo); 1969,
Eduardo Mondlane (Moçambique), Primeiro-Ministro do Congo,
assassinado num complô orquestrado pelos EUA, Bélgica e França. Em
1972, Ange Diawara Bidie e Jean-Baptiste Ikoko (Congo Brazzaville);
1973, Outel Bono (Chade), Dirigente
pan-africanista assassinado em Paris com dois tiros no peito pelo
Serviço de Inteligência da França (SDECE), e
Amílcar Cabral (Guiné-Bissau e Cabo Verde), Líder
da Gunié-Bissau do (Partido pela Independência de Guiné-Bissau e
Cabo Verde), assassinado pelo Serviço de Inteligência de Portugal
(PIDE) com participação de traidores do movimento.
Em
1974, Onkgopotse Tiro
(África do Sul); 1975, Herbert Chiptepo (Zâmbia) e Josiah Kariuki
(Quênia); 1976, Murtala Mohamed (Nigéria), Presidente
da Nigéria, foi assassinado pelo serviço secreto dos EUA (CIA) e da
Grã-Bretanha (MS).
Líder
da Gunié-Bissau do (Partido pela Independência de Guiné-Bissau e
Cabo Verde), assassinado pelo Serviço de Inteligência de Portugal
(PIDE) com participação de traidores do movimento. Em
1977, Steve Biko (África do Sul), Assassinado
na detenção pelo regime do Apartheid, foi propulsor da filosofia
consciência negra, e Modibo
Keita (Mali), Presidente do Mali,
foi eliminado por emergência de um golpe de Estado promovido pela
França. Em
1981, Joe Gqabi (África do Sul); 1982, Ruth First (África do Sul);
1983, Attati Mpakati (Zimbábue); 1986, Samora Machel (Moçambique),
1987, Thoma Sankara (Burkina Faso, Primeiro-Ministro,
assassinado em sua residência, presume-se que pelo governo francês.
Op. cit.
e por
último Kadafi 2011 (Líbia)
(Op.
Cit.).
Intelectuais
como Cheikh Anta Diop, Jacques Depelchin, Ki-zerbo, Elisée Soumonni,
Wamba dia Wamba, Hampate Bâ, Tehophile Obenga, Severino Ngoenha,
Carlos Moore, Henrique Cunha Junior, Abdias do Nascimento, Lélia
Gonzalez, Chimamanda Adiche, Angela Davis, Bell Hooks, e
nós que estamos aqui mostra que essa acomodação não nos afeta em
sua totalidade. A acomodação atual está em alguns dos líderes
africanos e dos países em desenvolvimento como o Brasil celebrarem
acordos com países
imperialistas, organismos e agências internacionais negociando suas
riquezas. O que não se restringe apenas ao continente africano, no
Brasil temos um exemplo recente as obras de Belo Monte, sem que
nenhum parlamentar se abale com os impactos ambientais em sua
totalidade e a atual tragédia
de Mariana.
É
importante notar que os africanos não se deixaram escravizar (Cunha
Junior). Existe uma parte da população africana que preserva
valores tradicionais. Mas também é mais importante saber que existe
um sistema que está obcecado pela destruição da humanidade na
África, principalmente pela sua riqueza, não pela sua pobreza. E os
países da diáspora corroboram com as práticas racistas que
dificultam a vida dos(as)
negros(as)
e perpetrando
o preconceito anti-africano e
antinegro. No Brasil, o exemplo
mais recente se expressa pela dificuldade na aceitação das ‘Cotas
para Negros’ nas Universidades que
foram aprovadas como cotas sociais e
a exclusão
da população negra em todos os setores da
sociedade. Quais são, os
motivos pelos quais os racistas são
contra as cotas? A obstinação não para,
não dá tréguas pelo fato de a
sociedade brasileira não suportar ver pessoas negras ascenderem a
setores antes ocupados apenas por outros(as), os não-negros.
A
sociedade brasileira não aceita lidar
com mulheres e
homens os indesejados, africanos(as)
e afrodescendentes, em suma,
não podem suportar qualquer coisa que desestruture o poder de quem
por séculos de mantém no poder, os brancos(as), eles não suportam
a comunalidade no poder, na
divisão de espaços e conviver
com a cultura dos que consideram inferiores.
Questionemos-nos, porque tantos anos de obstinação para destruírem
Palmares, Canudos e Caldeirão, os quilombos e as populações
indígenas?
No
continente africano existiram as guerras de expansão, mas elas nunca
promoveram genocídios em massa como a humanidade assistiu com o
tráfico transatlântico criminoso e a escravidão africana na
diáspora. Um verdadeiro holocausto que traz até hoje suas
consequências
não devendo nada ao crime
cometido contra os judeus.
Nessa escravidão se negou totalmente e humanidade, a cultura, a
religiosidade, os saberes e fazeres africanos atribuindo-os
diretamente ao atraso. O que não corresponde com a realidade. Aliado
a isso convivemos diuturnamente com a negação da filosofia e
história africana e dos afrodescendentes. Os
currículos escolares nos oferecem a
história e exemplos da
acivilização ocidental quando promoveram suas guerras, genocídios,
suplícios, violência física e simbólica contra si e contra os
outros. E que é o bárbaro e
selvagem? Aimé Césaire
observa que
[…]
uma civilização que é
incapaz de resolver os problemas que cria é uma civilização
decadente. Uma civilização que opta por ignorar os seus problemas
mais cruciais é uma civilização agonizante. Uma civilização que
ludibrie com os seus princípios é uma civilização moribunda. O
fato é que a própria civilização "européia",
"ocidental", como em dois séculos moldaram o regime
burguês, é incapaz de resolver dois grandes problemas que a sua
existência gerou: o problema do proletariado e o problema colonial,
que se refere ao limite da "razão", como ao limite da
"consciência", que a Europa é incapaz de ser justificada,
e que, cada vez mais, ela se refugia em uma hipocrisia, especialmente
porque ela emprega menos esforço para evitar a induzir a erros.
(Tradução Nossa)
Ariès
(1981)
em História Social da Infância e da Família aponta acontecimentos
na idade antiga referentes ao tratamento dados
às crianças na infância - o infanticídio,
à família,
à privacidade,
ao trato
com a terra que em nada corresponde à mesma época no continente
africano, o que demonstra a civilização dos povos africanos. De
acordo com o filósofo moçambicano Severino Ngoenha (2007),
o desafio africano é aliar a tradição ao moderno preservando a
cultura, a cosmovisão africana por que isso diz respeito a resolver
problemas criados pelos efeitos nefastos do colonialismo.
No que tange à escravidão, mesmo tendo
existido no continente africano e
nos quilombos (o que não é
especificidade africana, porque existiu escravidão em outros locais)
ela em sua forma nunca negou a humanidade das
pessoas. A democracia sempre
existiu na forma em que se exercia o poder, poder esse
descentralizado e compartilhado com respeito ao mais velho,
considerando a sua experiência de vida (KI-ZERBO,
2006), (HAMPATÉ
BÂ, 2003). O respeito ao idoso
é e era de fundamental importância o que não vemos na sociedade
ocidentalizada brasileira,
civilizada, democrática
onde temos e precisamos do
estatuto do idoso, elaboramos leis para obrigar esse respeito.
A
filosofia banto nos presenteia com esse pensamento que está
subjacente à irmandade do Rosário dos Pretos de Salvador. E está
em consonância com a filosofia egípcia. O
NTU,
o princípio da existência de tudo. “O Muntu
é a pessoa constituída pelo corpo, mente, cultura e palavra. O
Ubuntu, a
existência definida pela existência de outras existências. Eu nós
existimos porque você e os outros existem, tem um sentido
colaborativo da existência humana coletiva nisto [...] A natureza
como respeito profundo a vida. [...] Uma criança nasce e de imediato
é classificada na categoria de coisas, seres animados, até que
através da palavra falada alguém lhe dê um nome e o pronuncie. A
palavra transforma o ser animado potencial humano, passível de
inteligência humana a ser desenvolvida.” CUNHA JUNIOR (2010, p.
26-31) . Vemos que os princípios
africanos presentes na África pré-colonial eram nobres e creio que
devem continuar sendo, mesmo tendo sofrido abalos com após ser
invadido por Portugal, França. Espanha, Inglaterra, Bélgica,
Itália, Holanda, Dinamarca, EUA, Suécia, Áustria-Hungria e Imperio
Otomano.
NEGAÇÃO:
A AUTO-NEGAÇÃO, A NEGAÇÃO DOS DE FORA,
A
negação e autonegação ocorre pelo fato de desconhecermos a
história africana, dos afrodescendente e dos africanos no Brasil.
Inicia na
África quando os africanos são induzidos a desconhecerem a sua
história nos bancos escolares, por que a educação escolar tempo em
que educa, aliena as pessoas de sua história. “Uma
mentira repetida mil vezes, torna-se verdade” afirma o ministro da
propaganda da Alemanha Nazista, Paul
Joseph Goebbels. A
afirmação e escuta permanente da ausência de cultura, história,
civilização repetidas muitas
vezes por séculos, se
constituiu em verdade, e as pessoas se negam e não querem ver o que
contraria o que lhe foi veementemente afirmado. Temos inúmeras
obras não traduzidas e as que são traduzidas corroboram com para
colonialização do saber e do conhecimento e com a neo-colinização.
Hoje
em Cabo Verde os portugueses ainda sufocam os caboverdianos com sua
literatura impondo ainda a sua presença, além da presença chinesa.
Essa negação é corroborada para o bem do capitalismo e do consumo
exacerbado. No
Brasil não é o contrário.
Uma
vez reconhecendo que existe uma história africana, que é alicerce
para a história da humanidade se demolirá a negação e
auto-negação da África. O colonialismo foi e
continua sendo que entrou no continente africano, latino-americano
dentre outros, abriu uma ferida
incurável,
o racismo que nega a
humanidade. Uma vez negada a
humanidade de alguns, se condena a humanidade inteira,
desestruturando e desequilibrando as populações africanas e
na diáspora africana. Este
desequilíbrio, que também nos
põe em divergência com outros seres humanos, levou os líderes
africanos a colaborarem
com a colonização e neo-colonização, não
diferindo no Brasil. A
humanidade tirada dos africanos, restrita apenas ao branco europeu,
aliena-se a humanidade à branquitude. Em Paris, no ano de 1789 os
representantes do povo francês declararam os direitos
imprescritíveis do homem, liberdade, a prosperidade, a segurança e
a resistência à opressão.
O que não foi estendido para
os africanos no Haiti.
O que criou por uma parte
o
sentimento de superioridade em alguns
e noutros o de inferioridade e
auto-negação de valores, cultura, religiosidade.
Os
colonizadores europeus sempre pensaram os africanos como objeto de
exploração territorial econômica, não diferindo hoje dos países
não-europeus, a exemplo do
Brasil, agindo atualmente como
um predador da África.
exatamente como os colonizadores.
A supressão cultural e religiosa africana, que era o alicerce das
sociedades africanas Achebe (
1983),
novamente o Brasil com a leva
de igrejas neopentecostal, as
empresas brasileiras em África.
Contudo, a família, os laços
consanguíneos
e de parentesco; matirlinearidade e patrilinearidade, o exercício do
poder distribuído para que todos que
se sintissem participantes, não
representados como em nossa democracia, a tradição oral, são
valores que foram abalados, mas muitos não se perderam (ALTUNA,
1983).
A
ancestralidade, a religiosidade, a circularidade, a energia o axé
(ioruba) (LUZ, 2000). O
ntu
(banto) ALTUNA (1983). O que
corresponde ao maat
egípcio, (Obenga) e a tradição oral que
também são responsáveis
pela afrobrasilidade, ou
cultura de base africana e valores resignficados em algumas
organizações sociais, nas
manifestações culturais simbólicas, estéticas e dos
saberes africanos resignificados no Brasil. São saberes e fazeres
tradicionais persistentes a exemplo das iniciações africanas e
as celebrações fúnebres
(Guiné-Bissau). Em
Bom Juá nas décadas de 1940, 50, 60 e 70 ainda existiam as
sentinelas e em Plataforma
Salvador - BA
permanece, independente
da idade do morto, o cortejo
fúnebre seguir até o
cemitério levando o caixão nas mãos. A morte embora para alguns
seja o fim da vida, ou para outros a ressurreição no dia do juízo
final (pensamento religioso cristão) na
religião do candomblé é a
passagem para
a vida no mundo invisível, junto
aos ancestrais, por esta razão de realiza uma cerimônia chamada
Axexê. Outro valor afirmativo é a propriedade coletiva em
detrimento da privada. A solidariedade em detrimento da
individualidade, vemos hoje em
algumas comunidades tradicionais os
quilombos e nos terreiros de
candomblés.
Os
lugares/territórios são compostos de seres humanos e os seres
humanos modificam as coisas diante de suas necessidades e momentos
históricos. Os povos africanos produziram civilizações,
e elas atendiam às necessidades da época, o que denota
que as tecnologias africanas
africanas eram avançadas
antecedendo às dos
europeus (matemática,filosofia, agricultura, medicina, astronomia
etc).
Por essa razão não podemos atribuir a esse continente a
ahistoricidade, a aculturabilidade, a acivilização. Todos os povos
têm civilização desde que pensemos que a civilização tem
aspectos particulares e singulares. E que entendamos que a
civilização é ampla não atendendo apenas a uma lógica e ótica,
a eurocêntrica.
Selecionada para o mestrado em educação na UFC, tive a oportunidade de viver fora de meu estado. Nele nunca tive a experiência de ser tão admirada, “elogiada”. Em Fortaleza os homens e mulheres de pele escura são cotidianamente lembrados de que aquele não é o seu lugar, nem lugar de africano(a). Um exemplo para falar de acomodação, negação e afirmação: mesmo eu estando falando o português com sotaque baiano, ou se o(a) negro(a) for cearense com sotaque local é oriundo(a) de qualquer país africano. O que considero nossa acomodação aos ditames racistas e anti-africanos na sociedade brasileira tempo em que é negação da pessoa e de valores negros, e afirmação de racismo criminoso contra afro-brasileiros e africanos(as).
Selecionada para o mestrado em educação na UFC, tive a oportunidade de viver fora de meu estado. Nele nunca tive a experiência de ser tão admirada, “elogiada”. Em Fortaleza os homens e mulheres de pele escura são cotidianamente lembrados de que aquele não é o seu lugar, nem lugar de africano(a). Um exemplo para falar de acomodação, negação e afirmação: mesmo eu estando falando o português com sotaque baiano, ou se o(a) negro(a) for cearense com sotaque local é oriundo(a) de qualquer país africano. O que considero nossa acomodação aos ditames racistas e anti-africanos na sociedade brasileira tempo em que é negação da pessoa e de valores negros, e afirmação de racismo criminoso contra afro-brasileiros e africanos(as).
O
reconhecimento da filosofia africana é um exemplo de afirmação.
Existe um esforço de Teophile Obenga, Yoporeka
Somet, Cunha Junior, Severino Ngoenha
nos informa sobre uma
filosofia africana, desde o
Egito até outras localidades africanas no continente africano.
No que tange à religiosidade, mesmo com a invasão desrespeitosa de
outras práticas religiosas (islamismo e catolicismo e neo
penteconstalismo) a religiosidade africana se mantém muitas
vezes associada a essas à
outras práticas religiosas.
Os(as)
africanos(as)
associaram e incorporaram o que lhes interessava das outras
religiões. Essa religiosidade que não se afasta da vida social nem
afasta Deus das pessoas, ele
na religiosidade africana e de
matriz africana é onipresente,
inquestionável. No candomnlé,
os orixás são seres divinizados, ancestrais. A religiosidade
africana não prima pelo sofrimento e sim pelo equilíbrio e
felicidade, nem compreende
a morte como o fim e sim como um rito de passagem de um estágio da
vida para outro. A morte é um
fenômeno que desloca energia
para o divino, permanecem os
sentidos, é o retorno ao
divino que é a energia inicial. É o retorno ao início.
O
colonialismo europeu ignorando a complexidade das populações
africanas e objetivando a destruição por conta de sua ganância
inculca o contrário nas mentalidades, muitas vezes alvo de
colonização metal e cria uma entidade denominada satanás,
inexistente nas religiões africanas e de matriz africana para
desequilibrar as nossas mentes erigindo a satanização das nossas
religiões e das africanas. Cria as teorias racistas e nelas
inferioriza e desumaniza todas as práticas sociais africanas.
O
candomblé, umbanda, o samba, a capoeira no Brasil são símbolos de
resistência africano-brasileira
ao colonialismo, racismo criminoso antinegro a preconceito
antiafricanao. A África tem tudo para se reconstituir mesmo na
modernidade por que trás em si complexidades desde seus primórdios,
e não seria diferente no momento atual, como sabemos a África
inaugura tecnologias. O candomblé e a capoeira angola, são
atualizações e resignificações, mostrando
que se houve possibilidades fora da África na adversidade é
possível para a África atualizar-se nos momentos atuais, se os
países “desenvolvidos” e ditos em desenvolvimento não sabotarem
a marcha desenvolvimentista africana. Se os países “desenvolvidos”
criarem seus próprios meios sem extorquir o continente africano e o
latino-americano
em detrimento de seu próprio desenvolvimento. Exemplo: Cabo Verde:
na existem editoras, os livro são importados de Portugal. Não
existe agricultura por que os portugueses plantaram uma erva daninha
que seca o solo, a universidade pública se nega a tratar sobre
história africana, contudo a afirmação existe no sentido de um
grupo de professores
insatisfeitos criarem uma universidade particular para discutir sues
problema e afirmarem sua história. Afirmação do africano e do
afrodescendente é uma tarefa árdua.
A
áfrica pensando por ela mesma pode se estruturar, se formos capazes
todos de conscientemente barrar o neo-colonialismo porque ela não é
a barbárie. Grande parte dos jovens africanos em Fortaleza, e
principalmente os caboverdianos, sentem o peso do racismo no Brasil,
por serem confundidos com pessoas “cheias de doenças” mesmo não
aparentando serem doentes.
Nós
brasileiros que temos uma cultura de base africana precisamos com
urgência conhecer a história africana e identificar a nossa relação
com a África, que é o que temos de melhor para reconstruirmos a
sociedade de maneira digna e solidária, primando pelos valores
africanos de solidariedade, comunidade, equilíbrio, sociabilidade
democracia. E olharmos onde nos levaram, e nos levarão os valores
europeus da individualidade, consumo, e exploração do que é
alheio. É preciso deixar os(as) líderes africanos(as) pensarem o
que é melhor para eles sem deixar se levar pelas interferências
externas, mas como fazer isso com o sistema capitalista que se mostra
racista e antinegro e
preconceituoso com as filosofias, cultura e religiosidade africana e de sua diáspora?.
preconceituoso com as filosofias, cultura e religiosidade africana e de sua diáspora?.
REFERÊNCIAS
ALTUNA,
Pe. Raul Ruiz de Asúa. Cultura tradicional banto. Secretariado
Arquiduidiocesano de Pastoral, Luanda, 1985.
ARIÈS,
Phillipe. História social da criança e da família. Tradução de
Dora Flasksman. Rio de Janeiro: LCT, 1981.
ACHEBE,
Chinua Achibe. O Mundo se despedaça. São Paulo: Ática, 1983.
BÂ,
Hampâté Amadou. Amkoullel, o menino fula. Tradução Xina Smith de
Vasconcleos. São Paulo: Palas Athena/Casa das Áfricas, 2003.
MOORE,
Carlos. A África que Incomoda:
sobre a problematização do legado africano no quotidiano
brasileiro. Belo
Horizonte:Nandyala. (Coleção Repensando a África, v. 1), 2008. 217
p.
Ki-ZERBO,
Joseph. Para quando África? Entrevista com René Holenstein.
Tradução Carlos Aboim de Brito. Rio de Janeiro: Pallas, 2006.
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